1- Oras, se achas que a responsabilidade de criar os filhos é do pai e da mãe, pq vc cria sozinha? Não podemos obrigar outra pessoa a pensar como nós. O que podemos fazer é tentar alertar o mundo de que não somos as únicas responsáveis pelas crias. Mas os homens precisam, enfim, entender que se divorciar das mulheres, não é se divorciar dos filhos. O vínculo, quem cria e fortalece, é a parte interessada.
2- Já vi você dizendo coisas machistas antes, então por que agora vem com esse papo de que é feminista? Sim, nós feministas, assim como a maioria das pessoas, também nascemos e aprendemos valores conservadores e somos influenciadas por uma sociedade desigual. Algumas de nós também já erramos no passado. Nós estamos sempre nos policiando e batalhando contra muita coisa que aprendemos e já foi natural pra gente, antes de questionarmos. Estamos sempre em busca de soluções para amenizar ou eliminar a cultura machista, na qual estamos inseridas.
3- Mas por que não vai lutar contra corrupção ou fazer trabalho voluntário para as crianças com câncer, afinal, mulheres são adultas, sabem o que estão fazendo e sabem se defender.
Na verdade, o sistema opressor, não diz escancaradamente que é opressor. O machismo é naturalizado, ou seja, há crenças enraizadas que não são verdadeiras em relação aos gêneros. O senso comum espalha as ideias do que é certo ou errado e crescemos com valores moldados pela nossa cultura. O hábito do questionamento não é tão comum. As pessoas questionadoras, acabam carregando estigmas, como fama de chata, infeliz, revoltadas e etc. Isso mina o aparecimento de outras mulheres que tenham "coragem" de lutar contra o que está errado. No passado, qualquer tese que contestasse uma verdade absoluta, era mal-encarada pela sociedade. Já acreditaram que a terra era quadrada. Quando um cientista disse que a terra era redonda, todos ficaram furiosos. O fato é que a diversidade é muito maior do que a que estamos acostumados a conhecer. Associa-se por exemplo, para a mulher a ideia de que sexo só é bom com amor. Para eles, associam o desejo sexual, independente do amor. Hoje sabemos que a nossa cultura interfere mais do que a biologia. Há mulheres românticas, outras não. Porém, a mulher tenta se enquadrar e se inserir de modo que seja aceita, por isso tende a se comportar como determina a cultura de sua nação. As que não seguem padrões morais que a sociedade determina, são chamadas de vadias, putas, safadas... As mulheres são adultas, podem ser felizes ou não em seus casamentos, mas o fato é que estamos em desvantagem nas empresas, na ciência e na política. Não é estranho que a mulher seja dona de casa, é estranho que quase sempre sejam as mulheres a exercerem essa tarefa, bem como, é estranho que quase sempre sejam os homens que pilotam aviões ou viram astronautas. Por mais que não percebamos, somos induzidas a acreditarmos na felicidade plena e realização através do lar e da família. É difícil se livrar desses valores, ou até mesmo, muitas acham "desnecessário", pois não querem carregar fama de infelizes.
4- Mas você não acha que é chato reclamar do mundo?
Se as mulheres não tivessem "reclamado" no passado, não dirigíamos não votávamos, muito menos tínhamos a opção de trabalhar. Esse conceito de que é impossível ser feliz " reclamando", nos é embutido há muito tempo. É totalmente possível ser feliz e ter consciência do que precisa mudar na sociedade. Ideias novas mudam o mundo, evitam tragédias. Antigamente, o brasileiro não tinha hábito de colocar o cinto, quem tem mais de 30 anos, deve lembrar. Desde que os publicitários criaram campanhas massivas, conscientizando as pessoas, o número de mortes no trânsito caiu consideravelmente. Com o machismo é a mesma coisa. Quanto mais consciência, menos mortes e violência contra a mulher. É comprovado que quanto mais machista uma nação, mais violenta. As pessoas acham que no Brasil, não existe mais, pois temos todos os direitos por lei. Mas enganam-se. A misoginia ainda é forte em nossa cultura e os números de mulheres que morrem, ou sofrem agressões físicas e verbais, vítimas de seus parceiros, ainda é alarmante.
5- Mas o caminho da revolta não leva a nada, não é melhor aceitar o mundo como ele é?
Na verdade, a revolta pode ser saudável. Quanto menos conhecimento, mais passividade. O conceito de revolta é intrínseco ao hábito da soberania masculina.
6- Mas se as mulheres são machistas, a culpa é delas, certo?
Quando os negros foram escravizados, a culpa não foi deles. A mulher se molda a sociedade da maneira que lhes
Mas não é exagero dizer que o sexismo atrapalha o desenvolvimento das crianças?
Na barriga ainda, o sexismo, por parte da família e dos amigos, começa. Quando a mulher descobre que é uma menina, começam os preparativos para a chegada da "princesinha". Espera-se dela um "comportamento adequado", recatada, mocinha, futura dona de casa, mãe e esposa. Há uma idealização. Com os meninos, há uma supervalorização contrária. Querem que ele seja forte, independente, astronauta, médico, engenheiro, pegador. É claro que as faculdades hoje em dia estão cheias e 50% são mulheres. Mas acontece que a mulher acumulou funções. Mesmo quando ela exerce uma profissão, ainda acha que é da natureza dela cuidar da família e do lar. Os comerciais estão sempre mostrando o papel da mulher na sociedade. Seguimos um padrão sem perceber e estamos em desvantagens em muitas profissões. Ainda é raro a mulher ser piloto de avião, pedreira, eletricista... desde criança nos ensinam o que podemos ou não ser. Isso advem dos brinquedos e do ambiente patriarcal que estamos acostumados. Isso precisa mudar, para que as mulheres evoluam e também tenham sonho de ser livres, independentes e realizadas profissionalmente.
Me considero uma pessoa do grupo de seguidores e admiradores dos grandes revolucionários. Me orgulho disso. Acredito que isso seja qualidade e não defeito. E acho que as pessoas têm direito de não serem assim, mas não tem direito de não respeitar ou rotular quem escolhe ser assim. Não sou vegetariana, mas admiro e entendo a luta deles. Ou no mínimo, se não admirasse, respeitaria, em vez de chamá-los de insanos, imbecis e outros xingamentos. É o que eu gostaria, de ser respeitada por ter escolhido ser feminista e por acreditar que isso ajuda outras mulheres a repensar sobre suas vidas, afim de serem mais livres e felizes. Também já me disseram que não respeito os religisos. Não sou religiosa, respeito os religiosos. Porém, luto pelo estado laico e liberdade em todas as esferas sociais: instituições de ensino, relações profissionais etc. Não vou à igreja,
Esses dias me disseram que quero ser dona da razão e quero saber mais do que "toda e qualquer supremacia". Antes de qualquer coisa, quero pedir minhas sinceras desculpas se causei essa impressão. Não tenho pretensão de saber mais, porém acredito que no mundo científico e nas relações sociais, há várias vertentes, verdades e possibilidades, mas não nos dizem isso desde que somos crianças. Não somos estimulados a questionar, mas a reproduzir ideias e construções sociais. Toda e qualquer evolução, surge dos questionamentos. Nenhuma luta contra preconceitos naturalizados, foi fácil. Que o digam Mandela, Marthin Luther King e seus seguidores. Não é de hoje que existem pessoas inconformadas. E não é de hoje que consideram essas pessoas infelizes. Na tentativa de prosseguir o sistema sócio-capitalista-opressor-desigual, inventam isso de que não podemos ser felizes, quando estamos buscando novas alternativas para a que a vida em sociedade seja mais justa. É um estigma que precisa ser combatido. Cada pessoa desenvolve seus parâmetros de prazer e vida bem vivida. Não existe uma regra. Há quem goste de cinema, pizza, bar. Há quem goste de sorvete, filme em casa, ativismo de sofá.
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