16 de fev. de 2014

Dúvidas frequentes

Certa vez ouvi alguém me dizer que sou hipócrita. Fiquei indignada e reflexiva. Então resolvi me defender, pois apesar de saber que tenho inúmeros defeitos, não acredito possuir esta característica. Resolvi então, fazer um FAQ com as dúvidas mais frequentes, para que as pessoas entendam melhor algumas questões.

   1- Oras, se achas que a responsabilidade de criar os filhos é do pai e da mãe, pq vc cria sozinha? Não podemos obrigar outra pessoa a pensar como nós. O que podemos fazer é tentar alertar o mundo de que não somos as únicas responsáveis pelas crias. Mas os homens precisam, enfim, entender que se divorciar das mulheres, não é se divorciar dos filhos. O vínculo, quem cria e fortalece, é a parte interessada.

 2- Já vi você dizendo coisas machistas antes, então por que agora vem com esse papo de que é feminista? Sim, nós feministas, assim como a maioria das pessoas, também nascemos e aprendemos valores conservadores e somos influenciadas por uma sociedade desigual. Algumas de nós também já erramos no passado. Nós estamos sempre nos policiando e batalhando contra muita coisa que aprendemos e já foi natural pra gente, antes de questionarmos. Estamos sempre em busca de soluções para amenizar ou eliminar a cultura machista, na qual estamos inseridas.

 3- Mas por que não vai lutar contra corrupção ou fazer trabalho voluntário para as crianças com câncer, afinal, mulheres são adultas, sabem o que estão fazendo e sabem se defender. 

Na verdade, o sistema opressor, não diz escancaradamente que é opressor. O machismo é naturalizado, ou seja, há crenças enraizadas que não são verdadeiras em relação aos gêneros. O senso comum espalha as ideias do que é certo ou errado e crescemos com valores moldados pela nossa cultura. O hábito do questionamento não é tão comum. As pessoas questionadoras, acabam carregando estigmas, como fama de chata, infeliz, revoltadas e etc. Isso mina o aparecimento de outras mulheres que tenham "coragem" de lutar contra o que está errado. No passado, qualquer tese que contestasse uma verdade absoluta, era mal-encarada pela sociedade. Já acreditaram que a terra era quadrada. Quando um cientista disse que a terra era redonda, todos ficaram furiosos. O fato é que a diversidade é muito maior do que a que estamos acostumados a conhecer. Associa-se por exemplo, para a mulher a ideia de que sexo só é bom com amor. Para eles, associam o desejo sexual, independente do amor. Hoje sabemos que a nossa cultura interfere mais do que a biologia. Há mulheres românticas, outras não. Porém, a mulher tenta se enquadrar e se inserir de modo que seja aceita, por isso tende a se comportar como determina a cultura de sua nação. As que não seguem padrões morais que a sociedade determina, são chamadas de vadias, putas, safadas... As mulheres são adultas, podem ser felizes ou não em seus casamentos, mas o fato é que estamos em desvantagem nas empresas, na ciência e na política. Não é estranho que a mulher seja dona de casa, é estranho que quase sempre sejam as mulheres a exercerem essa tarefa, bem como, é estranho que quase sempre sejam os homens que pilotam aviões ou viram astronautas. Por mais que não percebamos, somos induzidas a acreditarmos na felicidade plena e realização através do lar e da família. É difícil se livrar desses valores, ou até mesmo, muitas acham "desnecessário", pois não querem carregar fama de infelizes.

4-  Mas você não acha que é chato reclamar do mundo?

Se as mulheres não tivessem "reclamado" no passado, não dirigíamos  não votávamos, muito menos tínhamos a opção de trabalhar. Esse conceito de que é impossível ser feliz " reclamando", nos é embutido há muito tempo. É totalmente possível ser feliz e ter consciência do que precisa mudar na sociedade. Ideias novas mudam o mundo, evitam tragédias. Antigamente, o brasileiro não tinha hábito de colocar o cinto, quem tem mais de 30 anos, deve lembrar. Desde que os publicitários criaram campanhas massivas, conscientizando as pessoas, o número de mortes no trânsito caiu consideravelmente. Com o machismo é a mesma coisa. Quanto mais consciência, menos mortes e violência contra a mulher. É comprovado que quanto mais machista uma nação, mais violenta. As pessoas acham que no Brasil, não existe mais, pois temos todos os direitos por lei. Mas enganam-se. A misoginia ainda é forte em nossa cultura e os números de mulheres que morrem, ou sofrem agressões físicas e verbais, vítimas de seus parceiros, ainda é alarmante.


5- Mas o caminho da revolta não leva a nada, não é melhor aceitar o mundo como ele é?

Na verdade, a revolta pode ser saudável. Quanto menos conhecimento, mais passividade. O conceito de revolta é intrínseco ao hábito da soberania masculina.

6- Mas se as mulheres são machistas, a culpa é delas, certo?

Quando os negros foram escravizados, a culpa não foi deles. A mulher se molda a sociedade da maneira que lhes

Mas não é exagero dizer que o sexismo atrapalha o desenvolvimento das crianças?

Na barriga ainda, o sexismo, por parte da família e dos amigos, começa. Quando a mulher descobre que é uma menina, começam os preparativos para a chegada da "princesinha". Espera-se dela um "comportamento adequado", recatada, mocinha, futura dona de casa, mãe e esposa. Há uma idealização. Com os meninos, há uma supervalorização contrária. Querem que ele seja forte, independente, astronauta, médico, engenheiro, pegador. É claro que as faculdades hoje em dia estão cheias e 50% são mulheres. Mas acontece que a mulher acumulou funções. Mesmo quando ela exerce uma profissão, ainda acha que é da natureza dela cuidar da família e do lar. Os comerciais estão sempre mostrando o papel da mulher na sociedade. Seguimos um padrão sem perceber e estamos em desvantagens em muitas profissões. Ainda é raro a mulher ser piloto de avião, pedreira, eletricista... desde criança nos ensinam o que podemos ou não ser. Isso advem dos brinquedos e do ambiente patriarcal que estamos acostumados. Isso precisa mudar, para que as mulheres evoluam e também tenham sonho de ser livres, independentes e realizadas profissionalmente.


Me considero uma pessoa do grupo de seguidores e admiradores dos grandes revolucionários. Me orgulho disso. Acredito que isso seja qualidade e não defeito. E acho que as pessoas têm direito de não serem assim, mas não tem direito de não respeitar ou rotular quem escolhe ser assim. Não sou vegetariana, mas admiro e entendo a luta deles. Ou no mínimo, se não admirasse, respeitaria, em vez de chamá-los de insanos, imbecis e outros xingamentos. É o que eu gostaria, de ser respeitada por ter escolhido ser feminista e por acreditar que isso ajuda outras mulheres a repensar sobre suas vidas, afim de serem mais livres e felizes.  Também já me disseram que não respeito os religisos. Não sou religiosa, respeito os religiosos. Porém, luto pelo estado laico e liberdade em todas as esferas sociais: instituições de ensino, relações profissionais etc. Não vou à igreja,

Esses dias me disseram que quero ser dona da razão e quero saber mais do que "toda e qualquer supremacia". Antes de qualquer coisa, quero pedir minhas sinceras desculpas se causei essa impressão. Não tenho pretensão de saber mais, porém acredito que no mundo científico e nas relações sociais, há várias vertentes, verdades e possibilidades, mas não nos dizem isso desde que somos crianças. Não somos estimulados a questionar, mas a reproduzir ideias e construções sociais. Toda e qualquer evolução, surge dos questionamentos. Nenhuma luta contra preconceitos naturalizados, foi fácil. Que o digam Mandela, Marthin Luther King e seus seguidores. Não é de hoje que existem pessoas inconformadas. E não é de hoje que consideram essas pessoas infelizes. Na tentativa de prosseguir o sistema sócio-capitalista-opressor-desigual, inventam isso de que não podemos ser felizes, quando estamos buscando novas alternativas para a que a vida em sociedade seja mais justa. É um estigma que precisa ser combatido. Cada pessoa desenvolve seus parâmetros de prazer e vida bem vivida. Não existe uma regra. Há quem goste de cinema, pizza, bar. Há quem goste de sorvete, filme em casa, ativismo de sofá.


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