22 de jun. de 2013

O que eu quero como mãe...


Ah, meus filhos, eu tento tanto ser amiga... se vocês soubessem a importância. Acho que agora vocês dois não desenvolveram ainda essa consciência, pois são adolescentes e nessa fase a gente quer fortalecer nossa visão de mundo, personalidade, e não olhar para os nossos pais. Passou a fase do espelho, agora vocês querem ser vocês. Eu permito! Eu só queria vir aqui dizer que eu apoio!

Eu sei muito bem o que é sentir uma vida inteira de pai e mãe dedicados e amorosos, mas ao mesmo tempo que não me não aceitam como eu sou. Eu sei o que é uma vida inteira de pais que enxergam muito mais meus defeitos do que qualidades. Uma vida inteira deles invejando o gramado da família dos outros, que é muito mais verde, com filhos muito melhores. Eu sei o que é sentir vazio tendo tudo. Sentir sede e fome, tendo fartura. Sentir rejeição tendo a família que todos dizem ser ideal: pai e mãe casados, casa com piscina, colégio particular, uma família padrão "invejável". Eu sei o que é o peso de reclamar de barriga cheia, pois fui sempre mal agradecida por ter tudo isso e não demonstrar satisfação.

Eu sei que essa tal gratidão que eles gostariam, é ser extensão deles, da maneira de vida que eles acham melhor e não eu ter vida própria. Eu sei o que é ter rótulo por ter dificuldade de aprender e tirar notas baixas. Eu sei o que é descrença e comparação com meus irmãos. Eu sei o que é falta de luta de meus pais para entender que eu tinha necessidades especiais. Era muito mais fácil e cômodo, me ensinar sutilmente e carinhosamente, que sou burra e que tinha que me conformar com isso. Senti muita vergonha em não aprender. Em não entender nada sobre a vida, sobre o mundo.

Eu continuo sabendo pouco, mas eu me esforço. Eu luto quando preciso ler qualquer livro e voltar atrás várias vezes, para poder absorver o que está escrito. Eu luto contra estar com o raciocínio atrás em algumas coisas e, paradoxalmente, outras, lá na frente das pessoas. Eu continuo com meus limites, mas não deixo que me limitem ainda mais.

Eu sei o que é um irmão ser elogiado e tachado de engraçadinho por amar futilidade, dólar e compras em Miami, enquanto eu, aos olhos, de meus pais, pareço não ter objetivos. Quando desabrochei para ambição, o sentimento, para eles, era assimilado como inveja.

Eu sei o que é ser diagnosticada com "paranoia aguda" por identificar-me como diferente de muitas mulheres. Eu sei o que é acharem que meus irmãos precisam de psiquiatras por que sofrem, mas eu preciso por que sou louca. Eu sei o que é ter fama de revoltada. Eu sei o que são brigas infinitas por lutar contra o que eles dizem ser " da natureza" feminina ou masculina. Eu sei o que são risadinhas e ironias quando eu chego. Eu sei o que é ser mais motivo de piada do que levada a sério.

Ah, meus filhos, sejam vocês. Não os rotularei, não os abandonarei. Não quero que me agradeçam sendo uma cópia de mim. Permito que um tenha mais afinidade, outro menos. Mas não me permito amar menos, estereotipá-los por minhas percepções insanas, padronizadas e bitoladas.

As vezes vejo vocês dormindo, sento ali do lado, transmito uma energia boa com um toque leve que julgo ser de proteção e transmissão de boas energias. Aproveito o momento silencioso e faço um exercício: não tenho nada a ver com a crença, a orientação sexual, o corte de cabelo, o gênero, a aparência que vocês queiram ter. Mas também não quero sufocá-los oferecendo exacerbadamente tudo que senti falta. Quero que percebam que eu sou gente além de mãe, que eu erro, eu não serei perfeita. Vocês também não. Vai ter dias que terei indisposição e dor de cabeça.

Quero saber o que vocês tem pra me contar, quero dar risadas, debater, conversar coisas úteis e inúteis. Quando estiver com vocês, quero criar um universo paralelo e livre; quero estar com a atenção voltada só para vocês e não no trabalho, nos outros ou nas convenções sociais. Quero que sintam que eu os acho muito especiais. Eu vibro quando aprendem alguma coisa e querem me contar o que sentem. Eu vibrei quando eram crianças e diziam " Olha o que eu sei fazer!" Eu vibrei na aula de música quando tocavam várias vezes "parabéns para você", para se exibir para mim. Se vocês tem facilidade ou não para aprender, isso é o de menos. Eu sempre enxerguei o que são capazes e sempre enxergarei.

Não importa se estamos juntos muitas vezes ou poucas, mas que cada vez que estejamos com nossos momentos, eles sejam significantes, tenham muita qualidade e valor.

Quero só amá-los, eternamente.

Contem comigo, meus lindos.

Bjos, mamãe