1 de mai. de 2014

Enfrentando a guerra



Eu não perdi a guerra, mas me abalei. 

Eu saí ontem e como sempre, sinto medo de me sociabilizar. As pessoas falam com frequência, coisas parecidas, escancaram seus machismos, racismos, homofobias transfobias e vem com discurso de " vc tem que respeitar minha opinião". 

Tudo começou ontem a noite. Saí ( depois de séculos sem sair) com meu namorado e meu irmão, para jantar, na tentativa de fortalecer laços de amizade, pois tenho um bom relacionamento (embora, ele tenha pontos de vistas mais parecidos com os da maioria das pessoas) e me dou bem com ele. Mas em seguida, encontramos um rapaz que, há muito tempo evito, pois não curto gente antiquada. Pensei q podia sair por cima, superior, mas não posso, não estou preparada. Era pra eu ter ido embora, mas não fiz isso, permaneci e esperei aquilo q inevitavelmente acontece: papos sobre gênero, sexualidade, comportamento e etc...

Eu só queria dizer que me fiz de forte, dei respostas inteligentes, fui firme, não alterei o tom de voz, mas no final, quando o rapaz, depois de dizer inúmeros absurdos ( mulher e homem já são iguais, a mulher de hj em dia perdeu os valores, bla bla bla, trabalhador é tudo burro, tem q ser tratado na base da porrada, pq é tudo um bando de safado, bla bla bla) fechou com chave de ouro: "Não sou racista, adoro uma neguinha... ahh como adoro uma neguinha!" Ouvi aquilo como uma bomba. O tom de voz transbordava racismo. O rapaz branco, alto, gaúcho, ganha bem, tem na faixa de 40 anos. É surfista, jura que é um cara da paz, respeitador, pois diz que acha bichinhas insuportáveis, mas jamais as agrediriam.

Esse tipo de episódio, nesse estilo, acontece 100% das x q saio e tenho que lidar com pessoas. Minha família e meu namorado, dizem que tenho q mudar, senão, eu não vou ser ngm na vida. O rapaz é empregado de uma das construtoras de meu pai, e meu pai não se cansa de achar a "brutalidade dele" uma característica excelente para lidar com os peões. Vive o elogiando.

O convívio social, os eventos, tem sido uma tortura pra mim. Tudo me deprime, me faz perder o dia seguinte, fico sem vontade de trabalhar, fico improdutiva, com vontade de morrer e de uma maneira que me dá raiva de mim mesma, pois eu não queria sentir isso.

Apesar de ser mulher, sou privilegiada, pois sou cis, magra, meus pais são ricos (eu não usufruo disso como meus irmãos homens, vivo apertada, mas sim, tive ótimas oportunidades na vida por isso) e sou branca.

Eu devia ser mais otimista em vez de deixar a tristeza me dominar. Eu devia fazer terapia e sair do divã leve. Montar na minha bike, na ciclovia da minha cidade (considerada uma das melhores do Brasil em qualidade de vida) me sentindo ótima. Tb podia fazer yoga e usar mais roupas a ver com o estilo zen. Mas não, fico me preocupando com a imbecilidade alheia.

Eu só queria dizer, que, não queria, mas todo dia eu morro um pouco por dentro. Principalmente quando vem as provas de fogo: ter que me sociabilizar. Meus pais, minha família, ngm percebe, pois eu sou muito dedicada no meu trabalho, posto fotos lindas e sorridentes, no meu perfil real no Facebook e sempre falo de planos para o futuro.

Eu só queria dizer, que não sei se vou aguentar, pois não nasci para viver nessa época e não sei viver com os humanos.

Hoje só quero ficar sozinha, sentar, comer coisas nada saudáveis, mais do q posso até me arrepender e chorar. Só queria dizer a vcs, que o mundo é uma merda, mas queria pedir que não sejam fracos como eu sou.