11 de mai. de 2013

Vão embora as crianças, surgem novos adultos

Você cria seus filhos, acha que eles são uma extensão sua. Quando são crianças manipuladas por você, uma super heroína (super herói), a coisa é diferente. O olhar da criança é puro, ingênuo. Acredita em tudo que você fala. Mesmo que você não queira impor algum pensamento seu, você acaba persuadindo sem querer. Fala o que acha sobre a vida, sobre religião. Instiga o questionamento. Ou não. Dá ordens, mas também dá amor, carinho. Ou não. Afinal qual nosso papel como pais/responsáveis ou como filhos?

A vida é dura conosco. A gente cresce e continua criança. A gente idealiza e quebra a cara. Nossos filhos crescem e tudo que ensinamos, entra por um ouvido e sai pelo outro. Ou ele escolhe o partido dele. Se esses pais se divorciaram, ou até se são casados, mas são muito diferentes, há uma grande chance desse filho ter que escolher que educação julga mais adequada. Não existe imparcialidade e a briga pelo " eu sei o que é melhor para meu filho", é uma constante, mesmo quando esses pais fingem se dar bem.

Hoje é dia das mães. Eu acho que é uma data comercial sobre todos os outros sentidos que querem dar a data. Mas acho que para a criança distinguir isso, é difícil, então desde cedo, condicionamos o simbolismo no nosso cérebro, que acaba virando uma data importante até o fim de nossas vidas. Sempre fui nas festinhas da escola. A apresentação era demorada e chata, mas quando meus filhos estavam em cena, eu chorava, me emocionava.

Dificilmente eu não ligo para minha mãe no dia das mães. E dificilmente não me sinto deprimida, depois que perdi minhas crianças. Sim, elas se foram. Hoje vejo rapazes de cabelos nas pernas, vozes grossas, gostos diferentes, menos amor por mim. Pessoas que implicam comigo. Motivo? Eu os criei sozinha a vida toda. E isso enjoa. Isso faz muitos adolescentes perderem a admiração, ficarem de saco cheio. As mães dos outros quase sempre são mais legais. Ainda mais quando a mãe dos outros, se comportam dentro do padrão: servir, priorizar os filhos e se anular. Esse não é meu conceito de amor. Mas como explicar isso aos filhos quando existe um mundo contra você?

 Especialmente hoje, me sinto ainda mais triste.

Um de meus filhos admira o pai e não a mim. Meu filho seguiu a religião do pai e não as minhas ideias de estado laico, liberdade religiosa e a não obrigatoriedade de crenças para ser feliz. Falo pouco com ele, ele mora longe. Falamos por mensagens e raras vezes por telefone. A última vez, soube de algumas coisas. Meu filho reza e se sente bem com isso. Eu falei para ele que todo fanático religioso um dia começou com uma simples reza e por isso sou contra os professores que entram na sala e iniciam a aula com uma reza. Mas meu filho não vê nada demais em uma reza. " Mal não faz", diz ele, minha mãe, minha irmã e a torcida toda do Flamengo. As pessoas nunca vão entender. Não queria zombar de suas crenças, mas sempre fazê-lo questionar. Não adiantou. Ele diz gostar da bíblia. Eu tenho pavor a bíblia. Pavor a compartilhamentos machistas. Ele compartilha. Não para me afrontar, mas porque se identifica. E agora, eu que também me sinto criança, assim como ele, perdi um pouco da admiração por ele. Ele é mais um. Só mais um do senso comum. Saiu do meu ventre, foi criado 12 anos, para ser diferente. Mas o tsunami chamado cultura, foi mais forte, venceu. Foi morar com o pai no ano passado apenas, a vida toda a criação foi minha. Hoje está com 13 anos, mas com muito mais afinidade com o pai. Ele é bonito de chamar atenção. Já namora. Provavelmente deve falar coisas machistas para a namorada. Ele me considera "paranoica" com esses assuntos, então não conversamos sobre isso.

Meu outro filho tem mistérios. Não sei bem quem ele é. Até onde sei, um rapaz que eu amo, inteligente, mas que as vezes me dá medo. Tem facilidade para mentir. Não se abre, é reservado, não demonstra me amar. Demonstra que me respeita. Mas não me ama como eu pensei que um filho me amaria. Está fazendo terapia, precisa resolver questões internas. Me decepcionou com algumas coisas que eu me envergonho muito. Entendo que ele tem 14 anos e é uma criança, mas me decepcionei. As vezes vejo- o como um criminoso, as vezes como meu bebê lindo que sempre foi. Espero poder ajudá-lo.

Nenhum dos meus dois filhos me amam incondicionalmente. Agora entendo quando minha mãe dizia que o amor " de cima para baixo" é muito maior. E entendo que é uma decepção perceber que filhos não são nossa continuação. Me identifico mais com meu pai. Mas isso está longe de ser suficiente para ele ver em mim alguém que eu gostaria que ele me visse. Ele me vê como uma pessoa difícil, chata e dá a entender com seu machismo subliminar, entre palavras educadas, que eu devo agradecer por ter um homem que me quer. Meu namorado é legal, mas não é o centro de minha vida. Eu não vivo feliz por ter um macho. Eu não quero ser dona de ninguém e gosto de ser livre também. As vezes tenho dificuldade de estar em um relacionamento. Meu pai não entenderia jamais. Ele diz que eu não ouço ninguém, que eu não deixo ele falar. Mas eu só escuto a voz dele quando ele fala comigo. Se eu falo é ultrapassando sua voz, é pedindo passagem. Mesmo assim, sinto que ele me corta, ou mal me ouve. Ele quer que meu estigma continue. Ele já tem formatado em seu cérebro, meu estereótipo.

Nós, como pais, as vezes, queremos impor nossas impressões sobre a vida. Nem sempre fazemos isso por maldade.

A impressão que tive essa noite, quando deitei, foi que caí do 15º andar e continuo viva. Lembranças do passado se mesclaram com o presente e a ideia dos novos filhos que surgiram no lugar das crianças, me deixaram inconsolável. Chorar virou rotina em minhas noites frias. Me afogar e não encontrar ar, também. É madrugada. Preferi levantar e escrever o que sinto do que me afogar ainda mais em minhas lágrimas.

Não quero morrer, a vida ainda é linda. Tento ver as vantagens: agora não preciso mais de babá pra deixá-los quando quero sair para beber, ou uma simples tarefa que era quase impossível, como sair com eles para comprar roupas. Antes eles corriam pelas cabines e eu desistia de levá-los comigo para as lojas. Fazer feira no supermercado era uma função. Dormir nos fins de semana, impossível. Crianças correndo para todo lado. Duas se transformavam em 10 rapidinho.

Que mãe sou eu? O que será que acontece que só estou vendo as desvantagens? Fiquei amarga, antissocial e não aceito o mundo. As risadas vazias, as pessoas idiotas padronizadas, presas em conceitos pré-fabricados, não me atraem. Meus filhos têm razão, se era isso que queriam, estou longe de ser aquela mãe sorridente, que nasceu para servir, do comercial.

Sinto falta do olhar de admiração, de amor. Das cartinhas apaixonadas. O que entrou no lugar foi frieza. Ingratidão. Eles têm vida própria. Mãe é só um detalhe. Como é difícil lidar com isso! Até para mim, que nunca me culpei por ter ido a balada, por sair para trabalhar normalmente, é difícil. Até para mim, que sou feminista.

Crise existencial. Depressão pós parto que nada, depressão pós infância dos filhos. Meus filhos cresceram, não precisam mais de mim. O que eu falo é inútil. O que eu sou, não importa para eles. Colocando limites, mandando fazer a tarefa, já está bom. Não preciso ser diferente. As crianças vão ser o que quiserem quando crescerem, independente do que preguei a vida inteira. As crianças estão crescendo e nada demais está acontecendo. Estão se agregando a multidão.

Esse dia das mães, prometo um presente especial: vou cuidar de mim, da minha depressão. Quero ser feliz de novo.