23 de jun. de 2013

Carta de despedida preventiva



Hoje o vizinho, aqui no prédio, estava soprando bolha de sabão na janela e diante daquela altura e daquela cena de fragilidade, a centímetros da morte ( que as vezes me atrai e me fascina) pensei que todas as pessoas deveriam se prevenir e escrever uma carta de despedida, pelo menos de 5 em 5 anos. Seria muito chato ir embora dessa vida sem dar algumas respostas e dicas para as pessoas que convivemos. Ainda mais para mim, que não acredito em vida após a morte e não tenho religião. Esse espaço é livre e serve para dar asas a meus devaneios, então a insanidade é permitida. 

Prezados,

Por favor, se o pior acontecer comigo um dia meu Facebook seja alvo dos curiosos ( eita, coitada, ela faleceu de quê?) não deletem, não se incomodem, deixem que fique aqui, mas apaguem todas as mensagens que falem de Deus, pois sou ateia e em respeito a minha ausência de crença, gostaria de ser atendida. 

Muitos aqui que mal falam comigo, não inventem de dizer que fui uma grande pessoa. Não vão ao meu enterro por consideração ao meu pai/mãe/família. Só irá ao meu enterro quem NÂO me ama. Quem me ama respeitará essa minha vontade de não ter este ritual hipócrita e ridículo. Quero ser cremada, sem velório e sem quase ninguém, só meus pais, irmã e filhos.

Como sou uma pessoa polêmica, eu prefiro demonstrar minha ingratidão (até pq odeio essa coisa de ser boa depois de morrer)

A minha mãe quero dizer que aprendi a amá-la mesmo sabendo de todos os defeitos dela. Mesmo não concordando e tendo que conviver pra sempre com algumas palavras e insinuações que eu jamais diria para meus filhos, em nenhuma circunstância. Não sou melhor que vc, apenas diferente na forma de amar. 

Ao meu pai gostaria de dizer que apesar de todo seu esforço, seria impossível não ser injusto com algum filho, tendo 5 filhos. Jamais vc admiraria uma pessoa “ paranoica” e louca. Vc se acha moderno, mas vc é conservador, no fundo. Tente mudar isso e serás mais feliz. Pare de dizer que as pessoas que eram obrigadas a conviverem comigo me aturavam, eu tb as aturei. Conviver não é fácil e não é só comigo que dificulta, embora eu saiba que sou fora dos padrões que vc aprova. Mesmo assim, te idolatrei, meu pai. E tudo que sempre fiz foi pensando na sua cara de admiração.

Preciso dizer algo que vcs ainda não entenderam: Quem precisa aceitar o mundo são vcs, não era eu. Vcs estiveram enganados esse tempo todo.

Ao meu irmão mais novo, só tenho a dizer: o que aconteceu com aquele menino divertido que adorava andar de carrinho de rolimã? Vc era muito melhor antes!

A minha irmã, obrigada por tudo. Continue reaprendendo a resgatar sua personalidade, lutar por seus direitos e sua felicidade. Vc merece. Vc me enche de orgulho dessa forma.

Ao meu irmão Isaac, obrigada pelo carinho de quando éramos crianças. Sempre me defendendo da pentelhagem dos outros. Vc me irritou praticando bullyng como os outros meninos, mas vc era criança. Depois de adulto foi o único que parou. Eu te perdoo.


Ao meu irmão Jr, vc foi capaz de mudar mto mais do que pensei. Achei que vc era um cara de cabeça mais fechada, mas não, me surpreendi. Te admiro muito. Obrigada.

Aos meus filhos, eu escrevi algumas cartas, procurem e irão achar. Se puderem, continuem meus negócios e ideias que iniciei com tanto carinho.

Obrigada por terem lido! Não chorem por mim ( e nem precisam provar sentimento pra ngm, nem fingir sofrimento) a vida segue. Aproveitei como pude, não segui regras, não obedeci conselhos sábios, apenas meus desejos. Talvez tenha viajado menos, bem menos do que gostaria, mas acontece, nem tudo que a gente quer é possível. Aproveitem enquanto podem. Parece clichê, e é. Mas é verdade!

Abraços!

22 de jun. de 2013

O que eu quero como mãe...


Ah, meus filhos, eu tento tanto ser amiga... se vocês soubessem a importância. Acho que agora vocês dois não desenvolveram ainda essa consciência, pois são adolescentes e nessa fase a gente quer fortalecer nossa visão de mundo, personalidade, e não olhar para os nossos pais. Passou a fase do espelho, agora vocês querem ser vocês. Eu permito! Eu só queria vir aqui dizer que eu apoio!

Eu sei muito bem o que é sentir uma vida inteira de pai e mãe dedicados e amorosos, mas ao mesmo tempo que não me não aceitam como eu sou. Eu sei o que é uma vida inteira de pais que enxergam muito mais meus defeitos do que qualidades. Uma vida inteira deles invejando o gramado da família dos outros, que é muito mais verde, com filhos muito melhores. Eu sei o que é sentir vazio tendo tudo. Sentir sede e fome, tendo fartura. Sentir rejeição tendo a família que todos dizem ser ideal: pai e mãe casados, casa com piscina, colégio particular, uma família padrão "invejável". Eu sei o que é o peso de reclamar de barriga cheia, pois fui sempre mal agradecida por ter tudo isso e não demonstrar satisfação.

Eu sei que essa tal gratidão que eles gostariam, é ser extensão deles, da maneira de vida que eles acham melhor e não eu ter vida própria. Eu sei o que é ter rótulo por ter dificuldade de aprender e tirar notas baixas. Eu sei o que é descrença e comparação com meus irmãos. Eu sei o que é falta de luta de meus pais para entender que eu tinha necessidades especiais. Era muito mais fácil e cômodo, me ensinar sutilmente e carinhosamente, que sou burra e que tinha que me conformar com isso. Senti muita vergonha em não aprender. Em não entender nada sobre a vida, sobre o mundo.

Eu continuo sabendo pouco, mas eu me esforço. Eu luto quando preciso ler qualquer livro e voltar atrás várias vezes, para poder absorver o que está escrito. Eu luto contra estar com o raciocínio atrás em algumas coisas e, paradoxalmente, outras, lá na frente das pessoas. Eu continuo com meus limites, mas não deixo que me limitem ainda mais.

Eu sei o que é um irmão ser elogiado e tachado de engraçadinho por amar futilidade, dólar e compras em Miami, enquanto eu, aos olhos, de meus pais, pareço não ter objetivos. Quando desabrochei para ambição, o sentimento, para eles, era assimilado como inveja.

Eu sei o que é ser diagnosticada com "paranoia aguda" por identificar-me como diferente de muitas mulheres. Eu sei o que é acharem que meus irmãos precisam de psiquiatras por que sofrem, mas eu preciso por que sou louca. Eu sei o que é ter fama de revoltada. Eu sei o que são brigas infinitas por lutar contra o que eles dizem ser " da natureza" feminina ou masculina. Eu sei o que são risadinhas e ironias quando eu chego. Eu sei o que é ser mais motivo de piada do que levada a sério.

Ah, meus filhos, sejam vocês. Não os rotularei, não os abandonarei. Não quero que me agradeçam sendo uma cópia de mim. Permito que um tenha mais afinidade, outro menos. Mas não me permito amar menos, estereotipá-los por minhas percepções insanas, padronizadas e bitoladas.

As vezes vejo vocês dormindo, sento ali do lado, transmito uma energia boa com um toque leve que julgo ser de proteção e transmissão de boas energias. Aproveito o momento silencioso e faço um exercício: não tenho nada a ver com a crença, a orientação sexual, o corte de cabelo, o gênero, a aparência que vocês queiram ter. Mas também não quero sufocá-los oferecendo exacerbadamente tudo que senti falta. Quero que percebam que eu sou gente além de mãe, que eu erro, eu não serei perfeita. Vocês também não. Vai ter dias que terei indisposição e dor de cabeça.

Quero saber o que vocês tem pra me contar, quero dar risadas, debater, conversar coisas úteis e inúteis. Quando estiver com vocês, quero criar um universo paralelo e livre; quero estar com a atenção voltada só para vocês e não no trabalho, nos outros ou nas convenções sociais. Quero que sintam que eu os acho muito especiais. Eu vibro quando aprendem alguma coisa e querem me contar o que sentem. Eu vibrei quando eram crianças e diziam " Olha o que eu sei fazer!" Eu vibrei na aula de música quando tocavam várias vezes "parabéns para você", para se exibir para mim. Se vocês tem facilidade ou não para aprender, isso é o de menos. Eu sempre enxerguei o que são capazes e sempre enxergarei.

Não importa se estamos juntos muitas vezes ou poucas, mas que cada vez que estejamos com nossos momentos, eles sejam significantes, tenham muita qualidade e valor.

Quero só amá-los, eternamente.

Contem comigo, meus lindos.

Bjos, mamãe

17 de jun. de 2013

Matéria sexista na revista Época


Quando a gente pensa que a moda do sexismo passou, aparece mais uma matéria, fresquinha, sexista na revista Época dessa semana. Me dá um desânimo triste. A cada linha lida, uma reflexão: ainda vivemos no passado. Não reconhecer que a cultura nos molda muito mais do que os genitais e hormônios que nascemos, é uma ignorância sem fim. 

Prova do que eu digo são as religiões seguidas em cada nação. Ninguém mais acha estranho que 90% dos Brasileiros sejam de cristãos, e 90% no Japão não sejam? Ninguém acha estranho que na Suécia e outros países Nórdicos a desigualdade entre os gêneros seja beeeem menos evidente que no Brasil e outros países desiguais??? Os genes das pessoas na Suécia são diferentes? Por favor, né! Provas óbvias e concretas de que a cultura faz as pessoas e não há "estudo neurocientífico" sensacionalista que possa provar ao contrário. Simplesmente pq contra fatos, não há argumentos.

Queria entender o motivo que faz alguém acreditar em cérebros masculinos e femininos.

Só me lembro da cientista que escreveu um texto " ciência preconceituosa" se referindo a tais " pesquisas" e " estudos".

Fico me lembrando dos diversos absrudos que ouvi ao longo da vida: "negros suam mais", "brasileiro nasce com samba no sangue", "italiano gosta de massa por que está no sangue", mulheres já nascem com facilidade pra gingar ( essa pérola foi de Carlinho de Jesus) e outras baboseiras... essa gente nunca ouviu falar em cultura??? Nunca pensou que somos animais racionais e que a nossa tendência é agir conforme o fluxo?


Queria muito entender o intuito de pessoas que escrevem livros cujos títulos são: "criando meninas", ou "criando meninos". Por que na minha cabeça, só pode ser para ajudar a estereotipar e alienar ainda mais os pais. Ou para vender mais brinquedos e perpetuar uma cultura desigual, em nome do capitalismo.



Sobre os manifestos...

Será que é pedir muito que dentro desses manifestos para mudar a saúde, segurança e transporte público no Brasil, as pessoas incluam de "vale-brinde" a consciência de lutar por uma sociedade mais justa entre os gêneros, contra o femicídio e homofobia? 


Gente que luta por tudo isso só agora, gostaria de lembrar que outros já lutavam antes de vocês, por dignidade e respeito. Nós, ativistas veteranos, já fomos as ruas, já saímos de nossa zona de conforto e tentamos mudar as pessoas ao nosso redor há tempos. Que o digam os movimentos feministas e LGBT. Não estávamos dormindo, muito menos alguns tinham direito de nos dizer que nossas lutas eram menos importantes (e foram muitos os que riram do nome " Marcha das Vadias" e os que disseram que nossos protestos não eram válidos...). 

Que o gigante acorde, mas que o pacote de luta, seja com tudo que temos direito!!


" Sem contestação, não há revolução!" Li oak

Avante, Brasil!




5 de jun. de 2013

Eu não nasci para você zombar da minha cara, da minha fúria, do meu choro, do meu tombo, dos meus sentimentos. Eu nasci para ser feliz. 

Li


 Não é que eu fuja das regras. Você é que foi ensinado a acreditar que elas existem

Li

1 de jun. de 2013

Dicas de como reagir a uma cantada de rua




Tem uma dica que eu dou sempre para as mulheres, quando o assuntp é cantada basha. 

Hoje resolvi trazer aqui!  Quando a gente passar na rua e eles vierem com aqueles olhares e aqueles palavrões baixos, aquele " gostossssaaaa" que sai do fundo do âmago do cara babaca, a gente faz uma careta bem feia. A animação deles, acaba! 

Um dia eu lynda de bici, passeando, e o caminhão de lixo parou e os lixeiros ficaram tirando gracinha. (que mulher nunca passou por isso? Gracinhas no meio da rua? Pedreiros e etc? Nenhuma está isenta!) 


Nos fazem acreditar que isso é elogio, eu não acho! Pode estar no caminhão de rua ou numa Ferrari, na boa, homem que fala baixaria pra uma mulher,como se existisse um objeto em sua frente, é tipo assim: "que deselegante!" Eu acho machismo e falta de respeito ( Rita Cadilac uma vez disse que era elogio e que se sentiria feia se passasse na obra e os pedreiros não olhassem... hei, girl, vc precisa mesmo disso pra se sentir linda??? Não me venham com mi mi mi de que é elogio!). Então que tal retribuir com deselegância também?



É, homens, se virar todo pra olhar, não poder ver uma mulher passar, é bem ridículo, tá?,Quanto mais falar baixaria? 

Bom, concluindo, quando os lixeiros começaram, eu fiz uma careta horrível e dei dedo do meio. Eles ficaram sem ação.



É mágico, experimente você também!









Susana Vieira no Altas Horas, deu branco?

Vendo agora no Altas Horas Susana Vieira desabafando sobre o que é ser mulher de homem mais novo, cheguei a uma reflexão. (Ela disse que se incomoda sim com as pessoas que falam sobre a diferença de idade e que não entende o motivo de o preconceito ao contrário quase não existir).

Ela usou as seguintes palavras: "Não sei de onde vem isso, não sei qual o embasamento para isso, mas o fato é que as pessoas não falam tanto de homens mais velhos com mulheres mais novas, mas já o contrário sim".

É incrível como o machismo é um preconceito negado. Não se pode falar a palavra machismo na nossa sociedade. Acho que há um medo em falar, pois até nisso, nos moldam: sempre dão a entender que mulher que admite isso se vitimiza, é revoltada, amarga, chata e etc etc...

" Ah, hj em dia não tem mais isso!" Diriam os pseudos-descolados que inibem que falemos claramente a tal palavra proibida.

Eu, particularmente, fico triste em saber que as pessoas não enxergam o óbvio. Não nos fazemos de vítimas, ainda somos vítimas de uma sociedade injusta e desigual com as mulheres. E só é possível mudar essa realidade, tendo consciência. Enquanto negarmos, não haverá luta, mas conivência. Eu sei que um dia não haverá mais motivos para falarmos sobre isso, mas esse dia ainda não chegou.

Eu gostaria de dizer (por ser uma mulher mais velha, inclusive que tem um namorado mais jovem e por isso enfrentar preconceitos também) que o motivo desse repúdio social, Susana, é só uma palavra que vc não usou: MACHISMO.