8 de jul. de 2010

Lei da paternidade redesenha masculinidade na Suécia

Segue matéria  publicada nom dia 16 de junho de 2010:




Em quatro décadas, governantes suecos garantiram às mulheres direitos iguais no trabalho - e aos homens, direitos iguais no lar

Mikael Karlsson possui um snowmobile, dois cães de caça e cinco armas. No seu tempo livre, ele gosta de caçar alces e trocar dicas com outros pais sobre como treinar crianças pequenas a usar o banheiro sozinhas. Embalando Siri de dois meses nos braços, ele não consegue imaginar como seria não tirar a licença paternidade. "Todo mundo tira."

Do centro da moderna Estocolmo à vila de Spoland, no meio da floresta ao sul do Círculo Ártico, 85% dos pais suecos tiram licença paternidade. Aqueles que não o fazem são questionados pela família, amigos e colegas de trabalho. Enquanto outros países ainda têm problemas com a licença maternidade e os direitos das mulheres, a Suécia pode ser um vislumbre do futuro.

Nessa terra de sabedoria Viking, os homens estão no cerne do debate sobre a igualdade dos sexos.
O ministro das Finanças de centro-direita ostenta um rabo de cavalo e diz ser feminista, anúncios de produtos de limpeza raramente mostram mulheres como donas de casa e livros da pré-escola são vetados se usarem estereótipos de gênero em personagens animais. Durante quase quatro décadas, os governos de todos as matizes políticas legislaram para dar às mulheres direitos iguais no trabalho - e aos homens a igualdade de direitos em casa.

Mães suecas ainda têm uma licença maior com seus filhos - quase quatro vezes mais do que os pais. E aquelas que pensavam que queriam seus homens em casa para ajudar a criar o bebê se veem cobiçando mais tempo em casa para elas mesmas.

Mas as leis que reservam pelo menos dois meses generosamente pagos em uma licença paternidade de 13 meses - uma cota que pode dobrar caso os social-democratas ganhem as eleições de setembro - desencadearam uma profunda mudança social.

Empresas passaram a esperar que seus empregados usem a licença, sem distinção de sexo, e a não penalizar os pais em momento de promoção. Os salários das mulheres foram beneficiados e a mudança no papel dos pais tem sido responsabilizada pela queda nas taxas de divórcio e no aumento da guarda conjunta dos filhos.

No possivelmente mais notável exemplo de engenharia social, uma nova definição de masculinidade está surgindo. "Muitos homens já não querem ser identificados apenas por seus trabalhos", disse Bengt Westerberg, que como vice-primeiro-ministro gradualmente implementou a licença paternidade de um mês em 1995. "Muitas mulheres agora esperam que seus maridos tirem pelo menos algum tempo para os filhos."


Birgitta Ohlsson, ministra de assuntos europeus, explica assim: "Machos com valores de dinossauro já não chegam à lista dos dez homens mais atraentes nas revistas femininas."

Birgitta, que pressiona governos da União Europeia a prestar mais atenção nos pais, está grávida de oito meses e seu marido, um professor de direito, tirará a licença quando a criança nascer. "Agora o homem pode ter tudo - uma carreira de sucesso e ser um pai responsável", acrescentou. "É um novo tipo de masculinidade. É mais saudável."


Em Spoland, Sofia Karlsson, policial e mulher de Mikael Karlsson, disse que acha seu marido mais atraente "quando ele está na floresta com seu rifle no ombro e o bebê nas costas".

Nesse novo mundo dos sexos, algumas mulheres reclamam que os homens suecos são politicamente corretos demais, mesmo para paquerar em um bar. E alguns homens admitem crises de insegurança ocasionais.

"Sei que minha mulher espera que eu tire licença paternidade", disse um proeminente jornalista de rádio, que recentemente tirou seis meses para cuidar de seu terceiro filho e preferiu manter o anonimato. "Mas se estivesse em uma ilha deserta com ela e o Tarzan, espero que ela ainda me escolhesse."





Fonte: Último segundo IG