7 de jul. de 2010

Caso Eliza é só mais 1 entre as dez mortes por dia no país


Dez mulheres são mortas por dia no Brasil

Tô chocada com mais um crime contra a mulher. Mas o caso só teve notoriedade por ser um famoso que agrediu uma vítuima. E as dez mortes por dia que o país contabiliza onde os principais motivos são a possessividade do homem sobre a mulher? Ainda tem gente que vem me dizer que eu sou exagerada pois muito pior é o machismo da Índia ou do Oriente Médio e que muito pior é ter que usar burca... do que adianta usarmos decotes e explorarmos nossa sensualidade se os machinaziztas estupram e matam e ainda justificam que as mulheres provocam isso? Basta nascer mulher, querida, você já tem culpa no cartório. Exagero? Ou falta de uma análise mais profunda sua com base na ciência, antropologia e estudos sociais?

Eu sou a louca que está doente por lutar por mais justiça entre os gêneros... eu que tenho que fazer terapia (como já me foi sugerido) enquanto os homens agridem e matam mulheres por aí. Isso sem falar nas consequencias psicologicas, os que não matam, nem batem, muitas vezes são os que traem, agridem verbalmente, não contribuem meio a meio com a criação dos filhos nem com as tarefas domésticas.
E o pior é escutar de várias pessoas o comentário: " ah, quem mandou ser Maria Chuteira? Como se houvesse alguma justificativa para se matar uma pessoa. Já falei aqui de como fico impressionada com os julgamentos da sociedade APENAS com as mulheres. Ele é julgado por ser assassino e ela por ser Maria Chuteira. Ele pode ter sua vida sexual plena, mas se ela tem é porquê é safada ou golpista.

Amor e ódio era a senha da vítima pra entrar no computador. Mera coincidência? Sinto pena de mulheres que acreditam que os homens são todos iguais e se apaixonam por canalhas ao em vez de buscar homens decentes pra se relacionarem. Podem me chamar de inocente, mas acredito no amor dela pelo cafajeste. Eu já me apaixonei por um quando mais jovem. Também tentavam colocar na minha cabeça que homem era diferente de mulher e que eles não desenvolviam sentimentos como nós. Já acreditei que todo homem era assim e pronto. Já fui vítima de cafajestagem, já sofri ameaças. Já pensei em virar lésbica por acredtar que homens não prestavam e eram todos iguais. Mas foi difícil convencer meu cérebro ter atração sexual para viver com uma mulher. Minha ignorância me fazia ser conivente com o machismo. Ainda bem que mudei e hoje sou uma lutadora fervorosa contra.

A sorte é que eu sozinha procurei lógica nessas questões e procurei viver minha vida fora dos padrões, sem me preocupar com as regras sociais. Mas e as mulheres que não saem delas? Que acreditam nessa dependencia financeira  e psicológica que procuram em homens? Como agora pedir que não existam mais maria chuteiras no mundo quando a mídia e a sociedade ainda nutrem preconceito contra as mulheres na política e nas empresas? Como agora pedir para elas largarem tudo e irem trabalhar em vez de ficarem cuidando de seus filhos se dizem para elas que lugar de mulher "direita" é cuidando do marido, dos filhos e da casa? (mesmo trabalhando fora!) É como o uso da burca no Afeganistão, como proibirem depois de imputar nas cabeças das famílias (homens, mulheres, crianças) que mulheres decentes não mostram o rosto e o corpo?

Só existe demanda para marias chuteiras se existem machistas.Elas não existiriam caso os homens repugnassem golpistas. Mas é muito cômodo "comer" e depois dizer que ela quis "dar" portanto, era sadafa. Engraçado, né? A ciência vem dizer que o clitoris é ativado pelo cérebro nas mulheres e nos homens o pênis é ativado por qualquer rabo de saia. E a mulherada acredita nisso como uma regra. Daí surgem as justificativas de que se a mulher transou é porquê tem algum interesse e se o homem transou é porquê é da natureza. A sociedade sempre rotulando as mulheres e safando os homens.

Se quem gosta de pinto é veado e mulher gosta de dinheiro, me digam se nos resta alguma saída... se mulher gosta de pinto é puta, mas se gosta de dinheiro também é puta... então so as que nao gostam de pinto nem dinheiro são decentes? Já homem que não gosta de dinheiro nem de vagina é execrado na sociedade, né? Moralismos só servem para aumentar a guerra entre as pessoas.

Enquanto isso na sala de justiça, eu choro a cada notícia de morte de mulheres. Sim, eu chorei quando disseram que enforcaram Eliza Samudio, deceparam sua mão e jogaram aos rotwaillers. Não me importa o passado dessa mulher, não me importa se ela engravidou de propósito.  Me importa que ela era um ser humano, uma mulher com direito à vida. Me importa que o machismo faz vítimas. Me importa que nós mulheres continuamos agindo como se nada tivesse acontecendo.


Ainda tem gente que vem dizer que se ela "se valorizasse" isso não teria acontecido. Copiei da comunidade feminista uma declaração que achei muito justa sobre esse fato:

"Eliza, solteira que não devia satisfação a ninguém, fez filme pornô, caiu na conversa de um jogador casado, engravidou, exigiu o que era de direito do bebê.

Bruno, casado e com duas filhas, vivia fazendo suruba com outros jogadores, disse que era normal "sair no tapa com a mulher", forçou a moça a tomar remédio abortivo, e até agora é o principal suspeito de ter mandado apagá-la.
E ainda tem gente que defende que ela é a errada que deveria "se valorizar", aff... "

Extraí alguns trechos do texto do link citado abaixo que acredito ser uma frase ignorada por minhas amigas, colegas, minha família e pelo mundo:

“Quanto mais machista a cultura local, maior tende a ser a violência contra a mulher”, diz a psicóloga Paula Licursi Prates, doutoranda na Faculdade de Saúde Pública da Universidade de São Paulo, onde estuda homens autores de violência.


Para aumentar a visibilidade do problema e intimidar a ação dos agressores, a aprovação da Lei Maria da Penha, em 2006, foi comemorada pelas entidades feministas por incentivar as mulheres a denunciar crimes de violência doméstica, garantindo medidas de proteção para a mulher e punições mais duras e rápidas contra agressores.

Mas a nova lei não impediu o assassinato da cabeleireira Maria Islaine de Morais, morta em janeiro diante das câmeras pelo ex-marido, alvo de oito denúncias. Nem uma série de outros casos que todos os dias ganham as manchetes dos jornais.

“No caso das mulheres, os assassinos são atuais ou antigos maridos, namorados ou companheiros, inconformados em perder o domínio sobre uma relação que acreditam ter o direito de controlar”, explica Wânia Pasinato Izumino, pesquisadora do Núcleo de Estudo da Violência da USP.

 Por serem ocorrências domésticas, às vezes a prevenção a casos como esses são mais difíceis”, afirma delegada Elisabete Sato, chefe da divisão de Homicídios do DHPP.


Já no caso do ex goleiro do Flamengo Bruno, o motivo do assassinato provavelmente deve ter sido por ela ser "Maria chuteira." Ou quem sabe ele julgou que ela era vadia? É, e eu que pensava que a lei onde o marido tinha direito de bater na mulher no Brasil era coisa do passado... que inocente que sou! Também já acreditei que que mulheres só eram mortas ou apedrejadas por esse motivo em países mega machistas como a Somália, o Afeganistão... ledo engano, queridos leitores. No Brasil, o motivo é bem parecido como vocês podem comprovar com essa matéria.:

http://www.estadao.com.br/noticias/cidades,dez-mulheres-sao-mortas-por-dia-no-pais,575974,0.htm



Agora eu pergunto:

Diante de tais estatísticas, porquê o governo não faz campanhas conscientizando homens e mulheres de que o machismo precisa ser exterminado? Porquê os números de mortes são ignorados e não são atribuídos à uma cultura defasada machista? Porquê você continua me achando louca por defender uma causa humanitária em vez de se juntar a mim?

Reflitam e não me respondam. Tomem apenas atitudes!

Quem quer que o preconceito acabe vai à luta!

Turma do Casseta e Planeta é mais um dos muitos programas humorísticos a fazer humor machista. Aconteceu no último programa de 6 de jul de 2010, e você mulher como se sente com isso?
Só se fala em copa do mundo e a Globo na minha opinião está dando show de preconceito contra a Argentina, Paraguay e outros países. O Casseta e Planeta ontem deu show de humor machista. E nós aqui de braços cruzados... Já nossos vizinhos sulamericanos foram à luta...

Hoje recebi um e-mail assim:


"De vez em quando é bom se colocar no lugar do outro. Preconceito só existe para quem é vítima dele... Rede Globo e seus canais, uma vergonha nacional, como pode ser mais uma vez comprovado ao ler o link abaixo:"



(o link é de um veículo paraguayo onde um jornalista indignado fala sobre o preconceito explícito dos brasileiros com a nação paraguaya, concordo com ele, pois nossos veículos deveriam agir de forma imparcial ao falar da copa e dos nossos vizinhos sulamericanos.  Em vez disso esculhambaram e falaram um monte de merda nos programas da rede Globo).

Recebi outro também onde dizia que um argentino se sentiu ofendido com a propaganda da copa da Ambev. Simplesmente a propaganda teve que sair do ar e a causa está rolando na justiça.

Pois bem, fiz uma analogia dessa historia com o preconceito contra a mulher... então fiquei pensando o que fazermos para que as mulheres se considerem vítimas como os paraguayos e argentinos se sentiram?

Porque deixamos usarem nossos corpos nas propagandas de cerveja como objetos?Porquê continuamos valorizando a beleza acima de tudo? Porquê deixamos os homens nos fazerem de empregadas em nossas famílias como mostram as propagandas de produtos de limpeza?

O que podemos fazer para unir forças e conscientizar mais mulheres de que o machismo é um problema social e não uma cultura sem importância? Porquê piadas machistas ou racistas são vistas pela sociedade como engraçadas? O racismo acabou mas nao culturalmente... por lei nós mulheres temos direito a tudo, mas é o mesmo caso dos negors, não culturalmente...
 
Reflexão: - Machismo nos programas de humor é comum!


e o que nós mulheres fazemos?


Casseta e planeta episódio de hoje: Ótima Bernardes (personagem que imita Fátima Bernardes) entra ao vivo da Africa do Sul e Bonner acaba de receber uma pizza de tele entrega no JN, faz cara de saco cheio e diz que nao aguenta mais comer mal porque ela nao ta em casa pra organizar a janta.


Ela pergunta pq a gravata dele é tao feia e ele diz que teve que perguntar no twitter que gravata usar já que a esposa nao estava em casa. Uma crítica explícita e ridícula à jornalista por trabalhar fora e como sempre o tema machismo tratado com humor.


Eu já mandei opiniões no twitter atacando, mas acho que eles nao veem. Pena que nao achei o email do programa pra mandar minha crítica.

Ainda acho que um dos caminhos para nós feministas é colocar a "boca no trombone"(essa expressão é do tempo do rcococó, sei, mas juro que nao achei outra) pra tentar fazer alguma coisa além de discutir sobre as questoes aqui nessa comunidade.
Alguém tem alguma sugestão do que podemos fazer?