10 de mai. de 2010

Dona de casa, ser ou não ser


Trouxe aqui esse tema para debate. "Dona de casa, ser ou não ser". Saiu uma matéria com esse título, em um caderno feminino, em um jornal estadual de domingo do mês de abril, um dos mais lidos aqui em SC. A foto da capa do caderno é uma família sorridente e aparentemente feliz. Induz ao pensamento que mulher feliz é a que é dona de casa e curte o filho sem trabalhar. A matéria fala de varias opiniões de psicólogos (aqueles clichês pra variar) e de feministas. Quer dizer... mulheres que se dizem feministas mas nao sabem o que é o feminismo... vejam isso:


"Camile Paglia, filósofa pós-feminista norte-americana, engrossa esse coro em suas afirmações de que o feminismo excluiu, denegriu e marginalizou a classe das donas de casa, e invoca que já é hora de o mundo aceitar a importância da maternidade."

Que feministas são essas que ela se refere? Denegrir e marginalizar a classe dona de casa não é verdade. Sou jornalista pós graduada, não sou filósofa, mas se tem uma coisa que eu sei demais é o que significa o feminismo. Queremos apenas justiça social, incluindo respeito as donas de casa.  Pra mim ja é hora do mundo aceitar a paternidade, porquê a maternidade ja é amplamente aceita, é quase sempre delas o dever de criar. Cada barbaridade que a gente vê! Sei não, mas acho que essa matéria foi manipulada pelo jornalista, pois acho impossível uma filósofa dar uma declaração dessa. Mas...


Pra mim parece que a imprensa ainda prepara materias baseadas no pressuposto que todo homem sustenta a casa. Esqueceram de citar que ser dona de casa pode nao ser opção para muitas mulheres que precisam trabalhar fora e colaborar com o dinheiro dentro de casa. Acho engraçado como a mídia trata o assunto de forma retrógrada.

Outra coisa que achei SUPER engraçado na matéria, foi que disseram que existe um preconceito com quem opta ser dona de casa. Que eu saiba, na nossa sociedade acontece exato o contrario: se vc vira mãe existe um preconceito com quem deixa seu bebê com 6 meses na escolinha- berçário p trabalhar. O que mais essas mães ouvem é: "que coragem", com tom e entonação de crítica. Escutei muito isso quando deixei meu filho com dois anos passar férias na casa da avó paterna. Escutei tb qdo ia à faculdade e deixava ele com um mês de vida com minha mãe. Não acho nada demais, mesmo! Sinto saudade, mas não sou essa mãe perfeita que a mídia prega, sou ser humano e confesso que vida própria e umas feriazinhas, apesar de todo meu amor, é muito bom!


A matéria traz outras opiniões tb, mas de uma maneira geral, ela não consegue ser imparcial, insinua que quem trabalha fora nao curte o filho tanto qto deveria curtir. Como se "acompanhar de perto" fosse so para as maes que abrem mao do trabalho. Eu sempre trabalhei fora e deixei com babá ou escola no período integral, porém  acho que agora que estou mais em casa é quando curto menos, porque o fato de estar junto o tempo todo e a obrigação de fazer almoço, para mim, gera stress. Como toda convivência. Mas essa é uma opinião particular minha. Eu acredito que a qualidade do tempo vale mais do que esse período aí full time que a matéria diz que é a melhor forma de "curtir" um filho. As revistas estão sempre com  essa onda de dizer :" Pintou uma gravidez, e agora? Abandono tudo e passo a minha vida agora a cuidar de filho, ou trabalho?" Mas a dúvida nunca é deles... como sempre eles nunca abrem mão e a cultura nos joga essa culpa, caso não queiramos ser apenas "do lar". Como diz uma colega, é a cultura do poder "machinizista" (machista + nazista) e as mulheres alienadas que ainda caem nessa.

Um dia desses Juliana Paes estampava o site da Marie Claire com a frase: "Estou louca para abrir mão de mim mesma para cuidar de um filho". Vocês já ouviram a recomendação de uma aeromoça na hora que ela diz: "caso precise usar máscaras de oxigênio, coloque-a primeiro em você, depois na criança?" Então, acredito que na vida seja assim. Só uma mulher que se cuida e tem boa autoestima, é capaz de cuidar de um filho. Essa declaração da atriz me parece aquela coisa de mãe super protetora que a sociedade acha lindo. Pois eu acho super-proteção tão prejudicial no desenvolvimento quanto ausência.

Vcs podem ate achar besteira o q eu vou falar, mas a escolha de ser dona de casa deveria ser reconhecida pelo marido e pela sociedade como um trabalho, inclusive com remuneração. Pq canso de ver mulheres que cuidam da casa e dos filhos dizerem que pra TUDO tem que pedir grana ao marido. Eles ficam ali fazendo aquelas piadinhas de que eles ganham e elas gastam mas não veem que o trabalho dentro de casa é um dos mais cansativos. E se tem um filho pequeno em casa eles ainda se dão o direito de dizer que estão cansados, nem ajudam na hora de dar um banho sequer e elas tb respeitam isso, afinal eles que colocam a grana em casa.


Mas a comida ta pronta, o banheiro tem cheiro de Pinho Sol, as roupas tao passadas e lavadas, os armarios arrumados, a louça um brinco. Acho humilhante a mulher ter que pedir dinheiro para comprar um alfinete que seja como se tivesse feito simplesmente a obrigação dela em casa e não um trabalho. Ok, um salário seria humilhante tb, mas pensei em tudo: por lei a mulher que é dona de casa (por opção dos dois) deveria receber uma porcentagem do contracheque do marido, se ele ganha um salário mínimo, que ela tenha direito a uns 30% do valor. Poderia ser proporcional tb de acordo com o salário do cara. óbvio que elas teriam q contribuir em casa com alimentação e etc, mas a sensação de ter um dinheiro fruto do trabalho delas e de contribuir em casa seria muito mais justa. Sem falar que se sobrar um troquinho ela nao tem que pedir ou dar satisfação do que vai fazer com aquele dinheiro. Nesse caso os caras iriam estimular que as mulheres trabalhassem fora. As mulheres tb se sentiriam mais inseridas na participação financeira da casa e mais valorizadas... bom é uma ideia que se lapidada pode ser boa...

Eu particularmente sou dona de casa e odeiooo!!! Sou uma profissional que vive de bicos, por isso não tenho empregada fixa. Diariamente faço serviços de casa e até almoço. Me viro nos 30 pra fazer tudo. Tem dia que estou com váaarias coisas para fazer, sou fotografa, jornalista, e me viro entre uma coisa e outra. Se fosse só eu, mas dois filhos dão um trabalhoooo... mesmo meninos que estao sendo treinados para ajudarem em casa... minha vida é bem complicada, sou pai e mãe e moro sozinha com eles ha mais de 8 anos. Você ser dona de casa, passar pelos problemas e ver uma matéria como essa, é deprimente... mas enfim, sou feliz apesar do perrengue. Sei que muitas mulheres estão em condições beeem pior que eu. Muitas moram com os maridos, trabalham fora e quando chegam em casa ela segue para a tripla jornada: a cozinha, a louça, a arrumação da casa... e eles seguem para a TV. Isso para mim é exploração! O povo da risada de mim. Mas um dia a mulherada vai se dar conta que não sou tão louca assim e que o machismo nos faz burro de carga. Minha luta é por todas as mulheres. Muito mais que por mim. Viva o feminismo!