28 de set. de 2010

Do objeto ao objetivo.

Aos meus poucos, mas especiais leitores, minha primeira poesia feminista.



"Não consegui ser abajur, a luz enfraqueceu

a força do meu eu.

Fui ao salão todas as quintas

e me entupi de tintas.

Meu cabelo e meu corpo embalado na grife,

não sei como pude ser tão patife

A primeira mesada me traz uma saudade esquisita.

Sentia vergonha de possuir apenas o  rótulo de rica.

Emagrecia e me fartava de orgulho.

Como fui inocente nesse mergulho.

A fome interior aumentava.

Enquanto a magreza se esbaldava.

No fútil, no luxo,

jamais no bucho.

Meu corpo como mero cabide me entusiasmava.

Mais tarde o sentido da vida me enfadava.

Assim continuava o ciclo e eu resguardava

o que tinha de mais profundo,

 era mais que meu mundo.

A primeira depressão eu menti.

Hoje acredito que cresci.

O primeiro emprego foi depois de muita idade.

Do divórvcio à liberdade.

O preço para ter um suposto poder,

faria morrer meu ser.

Corroía ser submissa

e ter que acompanhá-lo à missa.

Nem desejo  protetor

 muito menos provedor.

Recebia desaforo,

engolia meu choro.

Acordo sozinha sem obrigação das quintas

Aprecio com mais moderação as grifes e as tintas

apesar de triplicar a mesada que eu ganhava

O  importante não é mais o que eu amava.

Minha vida agora de nada depende,

somente da minha mente.

A gaiola de ouro se desfez

Para a chance de viver mais uma vez.

Daqui pra frente só quero diamante,

e uma barra de chocolate gigante.

Sou linda, independente e feliz

Como eu sempre quis.

Bato no peito forte,

meu valor segue até a morte.

Sou a mulher que quero,

e digo isso com muito esmero."




Liana Carvalho



PS: Essa poesia foi uma homenagem às mulheres que um dia deram um basta e deixaram de ser objetos para ter objetivos.