30 de jan. de 2010

"Podem me chamar de machista..." como assim, Bial?



Bial, querido, não achei você machista, viu? Lia, minha querida se você dança se esfregando porquê ele não pode dançar também? Direitos iguais!

você sabe quem foi Carmen da Silva?

Esses dias vi no vídeo show que o ator José Mayer tá provocando polêmica com seu personagem atual na novela "Viver a vida". Para os modernos e feministas, chega a ser até engraçado como ele é retrógrado e tem pensamento do tempo da vovó. Mas o problema é que ainda hoje tem uns "Marcos" espalhados por aí. E olha, tenho cunhado "Marcos", primos e até primas e nem tem desculpa de dizer que são mais velhos e por isso são de outra geração... são tudo abaixo dos 40. Desculpa pra bo dormir, esse negócio de outra época.   Ou seja´, só dentro da minha família já encontro vários "Marcos". Aqui no Sul não é diferente do Nordeste ou outra região. No Brasil todo tá impestado de "Marcos".

Inspirada nisso trouxe esse texto magnífico falando sobre Carmen da Silva (de outra geração e nordestina, região onde a crença popular acredita que têm o maior número de machistas). Vale a pena ler!


Carmen da Silva, em 1976: revolução na imprensa feminina com A Arte de Ser Mulher


Carmen da Silva foi uma revolucionária que sabia negociar. Recuar nunca, diz ela no livro de memórias Histórias Híbridas de uma Senhora de Respeito: quando se dirigia às leitoras da revista Claudia, "malhava em ferro quente", sem fazer concessões, mas devagar, "evitando termos que podiam chocar e criar anticorpos". Levou oito anos para escrever a palavra-bicho-papão "feminismo", o que não a impediu de ser feminista e explosiva desde sua estreia.

Ao analisar os textos da coluna A Arte de Ser Mulher, de 1963 a 1985, a jornalista cearense e doutora em História Ana Rita Fonteles Duarte, autora do livro Carmen da Silva, o feminismo na Imprensa Brasileira, fruto de sua dissertação de mestrado, observou três fases distintas: no início, a colunista parecia cautelosa, mas já contundente, convocando as mulheres a serem protagonistas de suas vidas e a buscarem a independência financeira. Depois de conquistar a confiança do público, passou a se dedicar a temas como sexo, traição e a dupla moral para homens e mulheres - defendeu o divórcio já em 1967, uma década antes da aprovação da lei no Brasil. Em um terceiro momento, a partir de meados dos 1970, quando tomava corpo o movimento de mulheres que ela apadrinhava, finalmente escreveu: "Sou feminista, sim. E daí?".

Os trechos a seguir, extraídos da coletânea A Arte de Ser Mulher, lançada em 1967, e do livro de memórias, de 1984, mostram que alguns dos questionamentos de Carmen seguem atuais. Como ela sabia, mudanças levam tempo.

AUTONOMIA
"(...) certos homens jamais aceitariam uma mulher independente. Como outros tampouco aceitam a mulher livre de compromissos (todos conhecemos algum exemplo dessa obsessão pela mulher alheia), a honesta, a inteligente, a refinada, a culta. Os seres de segunda categoria - seja moral, intelectual ou ambas - procuram a forma de seu sapato, o que é muito lógico; mas eles não constituem a norma e de nenhum modo é justo tomá-los como padrão."

SEXO E PRAZER
"A vaidade masculina inventou que mulher, quando diz não, quer dizer sim."


"Digam o que disserem os pais severos e inibidos, que costumam falar em mal necessário, em tributo à nossa natureza animal ou, criando falsas conotações religiosas, em sacramentos; digam o que disserem os mitos sociais detratores da vida normal e sadia (em realidade, resquícios de primitivos tabus) o sexo é profundamente satisfatório e é tão pecaminoso como um banho de mar num dia de quarenta graus à sombra."

ONIPOTÊNCIA FEMININA

"Tentei explicar-lhe (a um editor da revista Claudia que queria que ela escrevesse sobre o que uma mulher deveria fazer para seduzir seu marido quando ele não "a abraçava mais") o caráter machista dessa noção de onipotência feminina: "se seu marido não quer trepar mais é porque você não sabe fazê-lo querer": ser onipotente é arcar com todas as responsabilidades, todas as culpas. (...) Não é de surpreender que ele não compreendesse: muita gente até hoje não compreendeu."


DUPLA MORAL
Na maioria dos lares vigoram dois códigos: um para as meninas, outro para os rapazes. Há pais que olham com indulgentes e até cúmplices as moroteiras sexuais dos filhos homens, sendo severíssimos com as meninas. Como explicar a estas que a moral muda de um sexo para o outro?

Estão distorcendo o feminismo!


"Decotes, tomara-que-caia, minissaias cada vez mais curtas, roupas coladíssimas e até semitransparentes têm se tornado a vestimenta de mulheres e jovens na sociedade contemporânea atual. Comumente deparamos com mulheres e jovens semidespidas, sejam nos ônibus, nos centros, nas universidades, nas igrejas, nas praças e em todos o lugares.Fruto de um pensamento feminista (annn? como assim, Bial??), as mulheres encontraram nos dias atuais uma falsa liberdade sexual. Elas se julgam no direito de expor o seu corpo pela moda..."

Não identifiquei o autor desta pérola. Mas dei muita risada.

Pasmem, queridas leitoras, feministas. Fiquei boquiaberta com os comentários sobre feminismo internet afora. Esse é só mais um dos que eu acho por aí. O orkut tá cheio e comunidade contra o feminismo, pro machismo e pensamentos nada pertinentes à filosofia feminista. São a maior prova de que o feminismo na crença popular está completamente distorcido.

Gostaria de ter entre minhas leitoras adolescentes também. Porquê me preocupo com a educação das meninas que estão começando a enxergar o mundo e leem uma barbaridade dessas e logo pensam "ui ser feminista é uó".

Esclarecendo: Fruto de um pensamento feminista é querer igualdade nas questões políticas, no direito de ser solteira sem ser cobrada pela sociedade, no direito de transar sem ser taxada, mas com responsabilidade. Faz parte da nossa luta ser contra a mulher objeto que acredita que o corpo é mais importante que p cérebro. Porém faz parte de nossa ideologia não ter preconceito. Usar mini saia , roupas semi-nuas, segundo o autor ali de cima , é problema de quem quiser, mas nao tem nada a ver com feminismo!

PS: desconfio que seja o otário do colunista Maicon Tefen do RBS que escreve barbaridades sobre o feminismo e denigre nossa imagem perante a sociedade. A chamada esta la no site, mas quando a gente clica a pagina foi removida. Até fiz uma comunidade no orkut pra ele "eu odeio Maicon Tefen". (Nao por esse texto que nem sei se é dele, mas por outros, depois trago aqui pra gente analisar juntos) O leitor ignorante vai continuar sem entender nada do que prega nossa filosofia. Ai ai, paciência.

29 de jan. de 2010

As mal- humoradas que me perdoem (por Leila Ferreira)

Olá amigas leitoras. Trouxe esse texto aqui maravilhoso da jornalista Leila Ferreira. A-D-O-R-O ela!

As mal- humoradas que me perdoem...


Não adianta o corpo sarado nem o rosto sem rugas. Também não fazem efeito as roupas de grife. Em mulher mal-humorada, nada funciona: a única coisa que aparece é o mau humor. Mulheres de bico, de cara amarrada, ríspidas, amargas, azedas... alguém merece?!

Elas reclamam o tempo todo: adoram fazer papel de vítima, repetem 18 vezes por dia que estão exaustas (inclusive nas férias), põem defeito em tudo e em todos e amam fazer profecias negativas. Exemplo? Você chega ao escritório e conta, feliz da vida, que conheceu um cara interessantíssimo na noite anterior. A mal-humorada levanta as sobrancelhas, tomba o pescoço e diz: 'É, se eu fosse você não me animaria muito. Esses caras bebem, se entusiasmam, dizem que vão ligar, mas depois nem se lembram'. Pronto. Você, que já não é das mais seguras, sente seu castelo balançar. Não satisfeita, a colega vidente pergunta alguns dias depois se 'aquele cara' ligou. Quando você confessa que não, ela dá o único sorriso do dia e diz apenas: 'Não te falei...?'.
Além de conjugar o futuro sempre no imperfeito, as mal-humoradas adoram orações adversativas: 'O prato está bom, mas...', 'Fui promovida, mas...'. Há sempre um 'porém', um 'contudo' ou um 'todavia' no caminho dessas almas emburradas. Às vezes, expressos em silêncio. É aquela colega que chega, não dá 'bom dia', não abre a boca -e nem precisa: o rosto dela diz tudo. Se você perguntar se ela está com algum problema, a mal-humorada só responde: 'Nada, não...'. E aí a presença dela vai crescendo, porque não há nada tão contagiante, ou contagioso, quanto o mau humor. Ele intoxica quem está perto, contamina o ambiente.


Momentos de mau humor? Todas nós temos. Nada mais humano e mais digno de perdão. Mas há uma diferença enorme entre estar e ser mal-humorada. E não vale dizer que a vida anda difícil. A vida está difícil, sim, e não faltam razões para sentirmos tristeza, angústia, ansiedade. Mau humor, não: é um outro departamento. Tristeza e angústia, a gente processa internamente. Mau humor é quando você apresenta para o outro a fatura da sua infelicidade. Ele é obrigado a pagar a conta do que você consumiu (ou deixou de consumir) sozinha. Quem é que quer conviver com alguém assim?
Vi um outdoor em Tóquio que dizia: 'O sorriso é a melhor maquiagem'. Qualquer mulher fica mais bonita quando sorri. Não é preciso mostrar os dentes o tempo todo, dar uma de Poliana, como se a vida fosse pink -mesmo porque ela está mais para punk. Mas é por isso mesmo que a gente tem que ter senso de humor, sempre, em qualquer situação. Sem ele, fica impossível.

Ainda dá tempo: pegue de volta aquela sua lista de resoluções para o Ano Novo e inclua: 'Vou adotar uma postura bem-humorada diante da vida'. Ou então, melhor ainda: resolva já o que está causando seu mau humor. É o casamento, ou o namoro, que está respirando por aparelhos? Talvez seja hora de desligar todos os tubos. É a dieta, que está te deixando com fome? Melhor ganhar três quilos do que perder o humor. Se for o emprego, tente mudar. Se for a cidade, também. O que não dá é para puxar o freio de mão na infelicidade e depois apresentar a conta para os outros. Ah, e antes que você me pergunte, as sugestões também valem para os homens. Homem mal-humorado é castigo que nenhuma mulher merece. A não ser que ela também seja. Aí, é chumbo trocado. E os dois que se (des)entendam.




Leila Ferreira é jornalista, apresentadora de TV e autora do livro 'Mulheres - Por que Será que Elas...', da Editora Globo

26 de jan. de 2010

"As predadoras".



Depois de dar uma escapadinha no tema feminismo nos últimos dois posts, trouxe uma bomba polêmica! Achei esse vídeo de uma campanha publicitária da companhia aérea Air New Zealand, dirigida a mulheres maiores de 35 anos. Vejam la e depois leiam o que andaram dizendo e minha opinião.

A jornalista catarinense Trissia Sartore disse: "Está provocando a maior polêmica junto a grupos feministas da Nova Zelândia. Nela, uma mulher (bem caricata) ataca um jovem, que tenta se defender, mas é arrastado para um apartamento.



Em parte da narração, aparece a seguinte frase : morre de fome por falta de vegetação durante o dia (em alusão à dieta) e logo sai a caçar grandes pedaços de carne durante a noite.

Achei brega, mas não depreciativo. A publicidade retrata um tipo, estereotipado, que podia ser de qualquer sexo."

Trouxe do blog "Donna" da RBS. Concordo 100% com a opinião da jornalista. E olha que geralmente ver esse tipo de assunto por aí é sempre tratado de maneira machista ate por mulheres. Foi muito bacana o que a Trissia falou e eu ate deixei comentario la no blog dela. Também achei super brega, mas realmente é fato que tem gente que avança em cima (óbvio que no video é uma maneira caricata para ficar super característico. Mas quem nao se lembrou de alguma amiga assim? ou amigo? Sabe aquelas pessoas sem noção? Nossa, eu ja passei por isso.

 Uma vez o irmão da minha amiga (tinha uns 47) me viu no orkut e ela queria que eu o conhecesse de todo jeito, porque ele pediu. Detalhe: o cara tinha namorada. Ela ainda insistiu e é claro que arrumei uma desculpa. Não pelo fato dele ser mais velho, mas detesto homem atirado, galinha. De cara já não faz meu tipo. Nisso sou igual aquele carinha desse BBB 10 que dispensou a Anamara dizendo que ela era "atirada". sei que tem muita gente comentando por aí: "ai, o cara é gay". Ainda garanto que boa parcela que diz isso seja mulher. Elas são as mais machistas. Sinceramente,  acho que ambos os sexos têm que saber se valorizar. (Ter atitude é uma coisa, mas saber tecer o jogo da conquista e saber distinguir qdo ele ou ela está afim, mesmo que seja para ficar só por uma noite, é outra!)

Copiei 3 comentarios para discutir o assunto, os textos vermelhos são os que falaram os pretos, da blogueira que vos fala.


1 "Aqui no Brasil não é diferente. Vejam só as velharias como: Monique,Vera, Ana Maria, Suzana Vieira, Marília gabriela. Quando saem com seus garotões, parece que estão levando os netos à passear.
Beto de Novo hamburgo RS

Que absurdo, hein! Gente, a Helena da novela faz o papel de esposa sendo mais de 30 anos mais nova que o Meyer. Será que esse Beto falaria a mesma coisa? Ou será que o preconceito existe só com as mulheres?
Aqui fica meu recadinho pra Susana, Marilia e Monique: minha tia sempre disse que faz mais sentido o cara ser mais novo, pois depois dos 60 ela so precisa abrir as pernas e ele tem que fazer mais esforço. kkk brincadeiras a parte, sejam felizes e se estão com homens mais novos é porquê tão podendo!
Para Beto eu só desejo que ele se apaixone por uma mulher mais velha um dia. A vida dá muitas voltas...


2 "Na boa, hipocrisia demais destas feministas, se tu fores em festas do Brasil e do mundo inteiro, tu verás mulheres de 30 ou mais se envolvendo com caras mais novos. Os homens velhos elas querem pela "$egurança", os mais jovens pela "disposição". Lucas POA

Generalizando? sei, entendo que muita mulher acaba com nossa raça, queima toda a luta das feministas e realmente é uma verdade que muitas querem a $egurança e a disposição. Mas nem todas são assim, ta, Lucas? Eu namoro um cara 13 anos mais novo e ele tem bem mais disposição que $$$. kkk No entanto para mim basta! Ate pq com disposição em todos os sentidos, dá para lutar pelos seus objetivos, né? Tb quero deixar claro que disposição independe da idade muitas vezes.


3 "Bom, não me parece que elas tenham 30 ou 35, e sim parecem 45 no minimo. As pessoas que eu conheço na faixa dos 30 principalmente mulheres passariam por 20 e poucos fácil..Preconceito com idade nada ver, as pessoas são mais do que números. R. POA


BRAVOO!!! No coments!

E vocês? o que acham?

Pais ecológicos


Todo mundo sabe que sou feminista "doente". hehe Mas peço licença para vir falar de outra bandeira que levanto: a bandeira verde. Venho aqui trazer reflexões para quem vai ter um filho.  São dicas de sustentabilidade que podem durar desde os primeiros meses de vida até a vida toda. Acho que tem muitos pais por aí que ainda não acordaram pra realidade. O texto é da revista Vida Simples, que eu amo.

Texto Mariana Lacerda.

Berço verde

 
Em 1995 um dos maiores historiadores da atualidade publicou um tratado assustador sobre o século 20. Em seu livro Era dos Extremos, o britânico Eric Hobsbawm analisa toda a história dos últimos 100 anos. As guerras, os entraves raciais e religiosos, o crescimento das metrópoles e da economia mundial, tudo isso em detrimento da vida humana. “O velho século não acabou bem”, escreve. Pois logo no início do século seguinte o mundo passou a assistir a uma de suas maiores crises econômicas. O modelo capitalista, que em resumo diz que, quanto mais se acumular dinheiro, melhor, não funciona mais. A menina Isadora nasceu no dia 11 de fevereiro de 2009 no meio dessa confusão. E o que ela tem a ver com isso?
Tudo. Ela é a herdeirazinha deste mundo que construímos. E, apesar da pouca idade, é Isadora quem definitivamente abriu os olhos da mãe, que assina este texto, para desejar cuidar do que constitui o mundo dela: seu pai, suas bisavós e avós, primos, a sua casa, o seu bairro, a cidade em que vive. Foi assustada pela leitura de Hobsbawm e observando o mundo de Isadora que comecei a elaborar a pauta que deu origem a esta matéria. A troca de fraldas, apesar de ser um ato mais do que trivial na vida de uma mãe, também foi um fator imprescindível para pensar no assunto que vem a seguir.

Este é o Ted, o ursinho da prima Irene, que está passando férias na casa de Isadora

Lindas estas pantufinhas, não é? Presente de Pedro, o irmãozinho paulista

A cadeirinha veio do priminho carioca Chico. Grandão, Chico usou pouco o presente que ganhou do pai, Felipe

O macacãozinho também veio do primo Chico. Depois do dia em que foi feita esta foto, já não cabia mais em Isadora. Novo dono: Vicente, que acabou de nascer no Recife

Fralda é lixo Sim, fralda descartável é uma invenção bem prática, mas um horror para o planeta. Uma criança, em seus dois primeiros anos, utiliza em média 5,5 mil fraldas descartáveis – que custam à natureza cerca de cinco árvores. Uma fralda demora 450 anos nos lixões para se decompor. Para ter uma ideia, a cidade de São Paulo recolhe cerca de 13 mil toneladas de lixo todos os dias. Cerca de 230 toneladas são constituídas de fraldas descartáveis (2% do lixo é constituído de fralda descartável). Os números foram coletados pela engenheira química Bettina Lauterbach, do Rio Grande do Sul. Mãe de duas filhas, é uma das maiores ativistas do Brasil pelo retorno das fraldas de pano.

Graças ao trabalho de gente como Bettina, as fraldas de pano evoluíram. Elas se tornaram práticas, ajustáveis ao corpo do nenê. Bettina, que pesquisa tecnologias para a fabricação das fraldinhas e também as comercializa, conta que as maiores inimigas em seu negócio são as avós, que sempre tentam convencer as mães que entram em sua loja a sair dali imediatamente. Ela explica que aquelas que criaram bebês até meados da década de 1970 ainda têm na memória a pilha acumulada de panos no fim do dia. “Mas deve-se levar em consideração que as fraldas estão diferentes e o acesso às máquinas de lavar também melhorou”, diz.

Você pode até achar que também não é lá muito econômico para a natureza gastar água com a lavagem de panos. Mas hoje o problema do lixo nas metrópoles é muito mais alarmante do que a escassez de água. Tanto que países como Bélgica e Inglaterra incentivam – inclusive com dinheiro – os pais a optar pelo uso de fraldas de pano.

Faça um teste: pergunte a sua avó ou mãe se no tempo dela as crianças deixavam a de usar fraldas mais cedo do que aquelas de hoje, o que acontece por volta dos 3 anos de idade. É provável que, puxando pela memória, ela responda que sim. É que, naquela época, os pequenos se sentiam incomodados por estarem sempre molhados, coisa que não acontece com a fralda descartável, pois a tecnologia usada para absorver o xixi o deixa longe da pele do bebê até a troca. É verdade que não é fácil para pessoas como eu, que se acostumaram a usar fralda descartável na Isadora, se adaptar à de pano. Mas vale o teste. O trabalho cresce um pouquinho, sem dúvida, mas as vantagens ambientais são recompensadoras.
Consumo no berço Em seu livro Por uma Outra Globalização, Milton Santos, um dos mais importantes sociólogos brasileiros, conta como antes a economia se baseava na geração de bens que atendiam às necessidades de consumidores. “Atualmente, as empresas produzem o consumidor antes mesmo de produzir os produtos”, escreve.
Ou seja, somos bombardeados por ofertas de coisas de que não precisamos, mas tentam nos convencer de que nossa vida será melhor com elas. O mundo da maternidade é um exemplo disso. “Porque atinge o consumidor num momento em que, fragilizado pela chegada de um filho ou neto, tudo o que ele deseja é encontrar e oferecerlhe o melhor”, diz a advogada pernambucana Rebeca Duarte, que trabalha na organização não-governamental Observatório Negro e ministra palestras com mães de baixa renda a respeito da maternidade e do consumo.

As fraldinhas de pano substituem as descartáveis. Com estampas modernas, o xixi fica retido no refil de pano lavável

Arte feita pelos primos para a chegada da mais nova integrante

A antiga cômoda da mãe foi adaptada para servir de trocador para a filha

Este é o único móvel novo no quarto de Isadora. O motivo: os os berços da família estão ocupados

Nessa fase em que pais e mães estão suscetíveis, são ofertadas coisas não raro desnecessárias para o cuidado do bebê, a exemplo de carrinhos modernos. Enquanto uma faixa de pano envolvendo mãe e bebê (conhecidos como slings), como fazem os índios brasileiros, pode ser suficiente para sustentar com segurança o filhote no colo da mãe. Esse é, inclusive, o lugar onde o bebê pode sentir o mesmo calor e bater do coração de quando ainda estava na barriga, ganhando assim segurança para conhecer a vida que lhe espera. Motivo pelo qual, vale dizer, os autores do livro O Bebê – O Primeiro Ano da Vida do Seu Filho, uma espécie de bíblia sobre o desenvolvimento infantil, sejam categóricos em afirmar que as crianças mantidas no colo se desenvolvem com mais rapidez.

Rebeca Duarte, mãe de uma filha, se lembra ainda da doutrina das roupas azuis para meninos e rosa para as meninas: uma convenção puramente comercial. “Por que existe isso?”, pergunta. A despeito do rosa e do azul, nada mais simpático do que herdar roupinhas que foram usadas por primos e primas mais velhos: os macacões de Chico, o primo carioca, hoje são usados por Isadora e logo serão enviados para Vicente, o recifense recémchegado. Ou ainda as roupinhas de Irene, que, de São Paulo, foram enviadas para Olinda para que a prima Érica pudesse usufruir delas. E que meses depois voltaram para que então Isadora fosse brincar com Irene, hoje com 4 anos. Construindo-se no ato da troca, as relações de amizade e solidariedade, de estímulo à lembrança do outro e ainda o cuidado com as coisas usadas ao máximo antes do descarte. Às vezes, até passando gerações, levando consigo tantos significados, como é o caso do vestido que um dia Isadora usará em seu batizado e que vestiu a sua avó Sônia quando ela saiu nos braços da mãe dela (a bisa Anna) da maternidade.

Estar em rede Se no meio da correria que é cuidar de um nenê está difícil pensar nos aspectos que envolvem a sustentabilidade, tudo bem, nada mais do que compreensível. Mas uma dica importante: junte-se a quem, como você, está experimentando a maternidade – o que acaba acontecendo naturalmente. Isso significa estar em rede. Pode ser uma rede de amigas mães ou mesmo aquelas mantidas por organizações não-governamentais, como o Grupo de Apoio à Maternidade Ativa, em São Paulo, ou o Grupo Boa Hora, no Recife. Em comum, esses grupos existem para a discussão das experiências de parto. Mas seus participantes terminam por trocar experiências sobre o primeiro ano do bebê. Entram no rol de discussões uso de medicamentos, aleitamento materno, alimentação orgânica e também o troca-troca de roupinhas.

O dia a dia A escolha do que vestir, alimentação, opções ecológicas na hora da compra de brinquedo ou mesmo na organização das festinhas de aniversário. Tudo isso faz parte da tentativa de criar de forma mais sustentável um bebê. “Acho importante ser seletivo e procurar ‘influenciar’ nossos filhos com esse tipo de postura porque, além de fazer bem, existe uma filosofia por trás com a qual simpatizo. Mas que seja sem radicalismo”, diz a publicitária Ilka Porto, mãe de Antônio, amigo de Isadora.

É isso mesmo. Porque criar um bebê é construir o cotidiano. Que, por sua vez, “é uma história a meio caminho de nós mesmos. É o mundo que amamos profundamente, memória olfativa, memória dos lugares da infância, memória do corpo, dos gestos da infância, dos prazeres”, escreveu o filósofo francês Michel de Certau, em seu livro A Invenção do Cotidiano. Daí a importância de ajudar nossos filhos a construírem modos de vida saudáveis desde a mais tenra idade. Para que no futuro eles possam escolher a sua postura de vida face ao mundo.









19 de jan. de 2010

Um bate papo sobre Ivete, fama, mídia, cultura e afins.

Estou sem dormir. Até site da revista Quem eu já vi. E olha que acho uma perda de tempo, Caras e Quem. Foi sem querer, fui abrir meus e mails e vi uma proposta pra assinar. Parei e vi a capa. Então vim aqui falar sobre Ivete, fama e as reflexões que passam numa cabeça vitimada pela insônia. Sabe que despretensiosamente eu acho? Que eu e Ivete temos muita coisa em comum! A audácia de ter muita personalidade (sim, ser autêntica é uma faca de dois gumes. Ou da muito certo ou a sociedade te execra) . Ela fala o que pensa. A bicha é muito alto astral, esperta e marqueteira. Claro, atender o público cansada muitas vezes é mais um ato de markeing do que de amor. Tá certíssima! Se fosse eu fazia o mesmo. Primeiro porquê ela realmente ama cantar, segundo porquê é óbvio que ela é agradecida aos fãs. Só as vezes sinto pena das pessoas que não vivem a vida própria pra viver a de um artista. Fica ali chorando e perdendo um dia inteiro em uma fila pra chegar mais cedo em um show e depois outra fila depois do show pra entrar no camarim. Digo isso pq ja fiz uma vez. Valeu a pena. Senao eu nao conhecia esse universo. Todo conhecimento é válido. Quando vi aquela fila de gente pra Ivete atender, inclusive, deficientes mentais,físicos, idosos e etc, pensei: Jesus, tão confundindo a mulher com santa! Sinceramente passar uma vida fazendo isso? Quando a pessoa volta pra casa dos muitos shows, novamente a vida dela advinha o que é? A cantora. Blogs, twitter, sites, tudo na esperança de contatar a famosa e quem sabe, não seja um desejo inrustido de ser ela. Outra coisa que tenho em comum com ela é um amigo. Antes da fama dela. Hoje ex amigo, pois não tenho mais contato com ele. Agora ele é produtor dela. No dia que o reencontrei, depois de um show dela em Joinville, tomamos café juntos. Até comentei sobre essa questão prejudicial do fanatismo e que os artistas deveriam não incentivar. Ele concordou.

Afinal quem é esse fenômeno chamado Ivete? Morro de inveja dela. Mas é um sentimento estranho porquê não me depressia. Será que essa é a famosa inveja branca? Deve ser. Porque eu tenho uma admiração incrível por ela. Outra coisa que temos em comum é que ela namora um cara 14 anos mais novo. Muitas amigas apostaram que não dará certo no futuro. Eu não me preocupo com isso porquê pra mim o que importa é o presente. Assim como Ivete, eu me amo. Se o cara me deixar, problema dele, nasci com pré-disposição para ser feliz.Claro que sofreria. Mas tô pouco me lixando pra procurar uma cigana que me diga o que será do amanhã. Acho engraçado as pessoas. Um amigo meu gay também diz que não vai dar certo pelas "diferenças". Ora, quem é ele para falar de diferença? O velho preconceito, mesmo por quem não deveria ter preconceito é uó.

Ah, assim como Ivete,  eu também quero um filho do meu meninão. Só não saio em capa de revista dizendo que eu sou a mulher mais feliz do mundo porquê não sou famosa. Pena que dentre as semelhanças, há uma diferença gritante: eu não nasci para cantar. Quando eu era criança achava que não era tão dificil ser famosa. E jurava que um dia ainda seria. O encanto se desfez. Mas acho que muita gente morre esperando ficar famosa. A mídia nos ensina que ser famoso é tudo de bom, é tudo na vida. Hoje sei que isso não depende muito somente de talento mas de um fator parecido com o da loteria: sorte.

Já acreditei que ser famosa era sinônimo de realização. Mudei. Acho que a fama, além de sorte, é consequencia de suas atitudes e do que você realmente quer pra si.  Pela convivência que tenho com as pessoas, percebo que talvez seja uma busca pro ser humano. Qualquer um. É só vc olhar pro BBB e ver a quantidade de gente que quer ser famoso.

Houve também um tempo (ainda há?) que os artistas tinham raiva dos sisters. Diziam que eles não tinham feito nada para estar ali. Oras, eu me pergunto, tem muito ator bom que não cresceu na vida e não esta la, no lugar mais almejado pela humanidade: a fama. E eles, os artistas globais? Eles estão! Então pra que esse despeito? Isso é arrogante, pois não é so o ator que quer ser famoso. O advogado quer, o jornalista, a estilista, o arquiteto, o pedreiro.. e por aí vai... Não está em questão a inutilidade do BBB. Aliás, não entendo essa raiva toda do programa. Tenho raiva é quando aparece o senador com a cueca cheia de dólar. Mas de um programa que distrai e até promove uma auto- reflexão na gente quando nos identificamos com alguns comportamentos ali dentro, não me da ódio. Até creio que poderiam aproveitar para ajudar alguma entidade, tipo 1 milhão ser do ganhador e 500 mil da entidade previamente escolhida obrigatoriamente pelo participante. Assim, na minha opinião seria bem menos inútil. A "grôbo" pode. É só querer. Mais uma vez falo da tal cultura que tanto menciono nesse blog. Dessa vez abri uma exceção e não é da cultura machista que estou falando. É da cultura do mundo. Da competição, do poder.  E tem famoso que se deslumbra, viu? A propria Ivete as vezes comete umas gafes. Uma vez uma amiga disse que no camarim ela falou pra uma fã que "aparentemente" era humilde, bem assim: "vc ta linda, olha aqui gente, quem disse que pra se vestir bem precisa de grana?". Essa foi uma pra coleção de gafes. Claro, que não é dificil pensar isso em um país pobre. Mas óbvio que rolou o que? aquela velha palavrinha para definir o que meu amigo gay também teve comigo. Como ela sabia se a menina era ou não pobre? Uma hora dessas que eu não quero ser famosa, porque tem que medir tudo que se fala.

 Outra coisa que me da raiva, ta longe de ser o BBB. É o artista ir fazer campanha para as pessoa não comprarem cd's piratas. Ate q parou essa palhaçada, por causa da facilidade de baixar musica na internet. Algumas daquelas pessoas que estavam na fila para ser "abençoadas" pela santa Ivete, vive com um salário mínimo por mês. Enquanto isso, Ivete anda de jatinho pra cima e pra baixo e adora comprar roupas em NY. Aí o artista vem pedir para ninguém comprar CD pirata? Depois de cobrar carissimo no show e em royalties em produtos e o caramba a 4. Brincadeira, né! Comparo as vezes à igreja Universal de Deus. Eles tiram dinheiro da inocência do povo. Longe de eu estar aqui falando mal de Ivete, só dei um exemplo. Até porquê eu ja soube que a própria é super a favor da queda do preço do cd para acabar com a pirataria.

Óbvio qeu eu tenho noção que uma empresa como a de Ivete para sustentar seus altos custos precisa ganhar muito. Eu amo Ivete, mesmo tendo consciência que ela não é santa e nem perfeita. E mesmo sabendo que não adianta eu ir nos shows dela me descabelar para chegar ate ela da forma que eu queria. Como eu queria? Queria ser daquelas que troca babados e sai pra almoçar com ela. Mas infelizemnte, apesar das nossas semelhanças, a nossa distância é muito grande. Nem do meio artistico sou. Mas pra ficar ali pedindo esmola em forma de atenção, todo santo show, e fazer da minha vida a vida dela, não dá.

 Pode ate ser que um dia eu seja famosa, vai saber? Mas sinceramente, daria minha vez para quem quer tanto isso.  Prefiro ser feliz sendo o máximo pros meus filhos, admirada pela minha família e a mulher mais incrível do mundo pro meu namorado. E uma puta profissional. A fama pode ser linda. Mas a busca dela pode ser prejudicial a saúde. Uma coisa é certa: Quando ela vai acontecer não avisa, chega. Para que o desespero então?

18 de jan. de 2010

A imprensa descobrindo o "novo" homem

Ainda na revista Claudia, achei mais uma matéria  interessante:


"Há um novo modo masculino de pensar a vida a dois que pode surpreender as mulheres. Foi o que aconteceu comigo quando comecei a fazer esta reportagem: confesso que não esperava que os homens demonstrassem tanta disposição para discutir a relação. Mas, a cada conversa com um entrevistado, os depoimentos se aprofundavam, trazendo à tona uma visão prática da arte do convívio. Meio desconfiada, fui checar com um especialista. Constatei que, silenciosamente, o sexo oposto tem passado por uma transformação social e também pessoal. E isso faz toda a diferença quando o assunto é namoro ou casamento. “O homem está buscando mais intimidade consigo mesmo.
Esse processo inclui intensificar o papel de pai e valorizar outras esferas da vida. O aspecto profissional não é mais o único foco importante”, esclarece o psicanalista Sócrates Nolasco, autor dos livros O Mito da Masculinidade e A Desconstrução do Masculino (ambos Editora Rocco). Esse contexto favorece um bom encontro com as mulheres. Mas, para viver um amor adulto, ambos enfrentam desafios. “O casamento convoca os casais a gerenciar as frustrações e expectativas – às vezes irreais – em relação à vida a dois. É um exercício para um vínculo maduro”, diz o psicanalista. Se os homens estão vibrando numa frequência nova, é hora de atualizar o arquivo feminino. "

PS: quero salientar uma coisa: eu como repórter não teria ficado tão surpresa, quanto a repórter que escreveu essa matéria. Não fico surpesa com as constatações dos novos tempos que é praticamente a descoberta de que homens são sensíveis e querem o mesmo que nós mulheres: ser felizes. O que me deixa surpresa hoje em dia é ver ainda gente (principalmente mulheres)  machista e matérias machistas.

17 de jan. de 2010

sobretudo, para estar com alguém, é preciso aprender a amar.



Primeiro vem a descoberta das afinidades e a explosão da paixão. Depois, alguns casais simplesmente não se aturam mais - enquanto outros constroem um relacionamento vivo e gratificante.
A psicoterapeuta LIDIA ARATANGY fala sobre o fator que explica percursos tão diferentes

De repente, no meio do burburinho da festa de fim de ano, Fernanda sentiu o tuiiimmm. Ela conversava fazia menos de meia hora com o novo colega, mas não podia haver dúvidas: estava diante do homem da sua vida! O entrosamento entre ambos parecia mágico, tinham os mesmos gostos e opiniões - aceitaram e rejeitaram praticamente os mesmos salgadinhos. E Pedro era capaz de se antecipar até à sua sede - pois, quando ela se virou para procurar o garçom, Pedro já lhe estendia a taça de champanhe sem que ela dissesse uma palavra! Aquele relacionamento já nascia pronto e os próximos encontros confirmaram a primeira impressão. Em poucos meses, estavam casados. E felizes. Então, houve o grande desencontro. Pedro chegou em casa depois de um dia de trabalho tenso. E na conversa que tiveram cada um falou no seu idioma:

FERNANDA ? Oi, tudo bem?
PEDRO ? Tudo bem.
FERNANDA (desconfiada) ? Tudo bem mesmo? Você não está com cara de tudo bem...
PEDRO (constrangido) ? Não há nada de errado comigo, já disse que está tudo bem!
FERNANDA (aflita) ? Alguma coisa deve ter havido para você estar assim estranho!
PEDRO (irritado) ?Não houve nada! Só estou cansado, quero ficar um pouco sossegado no quarto, não se preocupe.
FERNANDA (solícita) ? Quer que eu prepare alguma coisa pra você?
PEDRO (aos berros) ? Pára com isso! Não quero nada! Me deixa em paz!
Mas por que se cavara tamanho abismo entre eles? Por que os dois se sentiam desamados e incompreendidos, incapazes de entender a repentina quebra de comunicação entre eles? Não basta o encantamento do primeiro encontro: é preciso aprender a amar.

No início de um relacionamento amoroso, os parceiros procuram e reforçam sinais que confirmam a fantasia de que têm um encaixe perfeito. As afinidades são valorizadas e as mais estranhas alegações são feitas para reafirmar que os apaixonados são uma única alma em dois corpos: "Ele adivinha meus pensamentos, não preciso terminar a frase para que me entenda!" Ou: "Você acredita? Ele também detesta suco de caju!"

Dificilmente um casal se forma sem passar por essa etapa. Mas nenhum casal tem chance de desenvolver e aprofundar o relacionamento se não for capaz de ultrapassar essa fase e de encarar as inevitáveis diferenças. Afinal, nem todos os nossos pensamentos são óbvios e os sabores de sucos são variados demais para que os parceiros sempre concordem em suas preferências e ojerizas. Então, à medida que a intimidade aumenta, a comunicação entre os parceiros se complica - e eles acabam por descobrir que não falam a mesma língua.

A linguagem do afeto não é universal. Nosso modelo de amor deriva dos vínculos afetivos que conhecemos nos primeiros tempos de vida, na linguagem sutil, cheia de meios-tons, que impregna o relacionamento da mãe com seu bebê. A maneira como ela o pega e acaricia, o tom de voz que usa para se comunicar com ele, o olhar que lhe dirige quando o limpa, veste, desveste - tudo isso é captado pelo bebê, que aprende, por meio desses sinais, o que é amar, o que significa ser amado. A partir daí, a criança estabelece internamente um código da linguagem do afeto, montando uma espécie de glossário, no qual o amor é definido como aquilo que os pais sentem por ela - e os sinais que expressam esse sentimento são os que ela percebe no contato com os pais.

Fernanda, por exemplo, estava acostumada a encontrar a mãe à sua espera quando voltava da escola. As pessoas de sua família têm o hábito de falar abertamente sobre o que sentem e acreditam que a intimidade se tece a partir desses momentos de encontro, quando as emoções são expressas, compreendidas e partilhadas. Na casa de seus pais, o afeto se traduz por uma preocupação com os sentimentos, um cuidado em entender o que se passa com o outro e um carinho para mitigar suas aflições. Na família de Pedro, os afetos percorrem caminhos diferentes. Lá, o valor maior está em respeitar a individualidade do outro, em não invadir seus sentimentos, para que as pessoas da família se sintam independentes e livres para expressar emoções quando e como acharem melhor.

Isso não significa que Fernanda seja mais amada do que Pedro nem que a mãe de Pedro seja indiferente às emoções de seu filho. Significa apenas que as duas famílias têm diferentes códigos para a linguagem do amor. Infelizmente, o parceiro não vem com uma bula pendurada no umbigo, em que a gente possa ler o código no qual ele esteve imerso durante a infância. Tudo seria mais fácil se houvesse uma espécie de manual de instruções explicando o significado de cada gesto, as indicações e contra-indicações, os efeitos colaterais etc. Como não existe nada desse tipo, é preciso reconhecer que o vínculo não está pronto como se queria acreditar: a tarefa de decifrar o código de amor do parceiro apenas começa quando o casal se forma.

O cinema nos ensina que é possível aprender a amar. No primeiro filme sobre o conto A BELA E A FERA, de 1946, Jean Cocteau nos faz amar Jean Marais no papel da Fera sem ao menos transformá-lo em príncipe. Como a Bela, ficamos apavorados quando surge aquele animal grotesco, de pêlo longo e áspero e garras pontiagudas. Mas nos comovemos, como a Bela, quando a Fera passa a visitá- la em seus aposentos, todas as noites, para falar de sua solidão, sem jamais fazer um gesto mais brusco ou uma entonação de voz agressiva: apenas, antes de se retirar, pedia a moça em casamento. Bela, delicadamente, declinava do pedido, mas este a cada vez parecia menos absurdo - tanto para Bela quanto para a platéia, cujas emoções vão se modificando de tal forma que, ao final do filme, estamos todos totalmente entregues ao olhar apaixonado e aos desajeitados gestos de ternura da Fera.

Outro mago do cinema, nos submete ao mesmo processo. A primeira impressão provocada pela imagem do E.T. é de susto diante de sua figura grotesca, de repugnância por sua pele de réptil. Com o correr do filme, tudo muda de significado: ficamos inundados de ternura por aquele serzinho desamparado, cada espectador quer segurá-lo no colo, aquecê-lo, protegê-lo. E isso Spielberg consegue sem mudar absolutamente nada na figura do E.T., nem sequer a iluminação que incide sobre ele. Toda a mágica se faz na nossa maneira de enxergar e entender a personagem.

Pois muitas vezes, no meu trabalho de terapeuta de casais, tenho a impressão de assistir a filmes como E.T. e A BELA E A FERA passados de trás para a frente: me vejo diante de histórias que começam no encantamento para, não raro, desembocar na repugnância e no horror. Na maioria dessas histórias, encontro nos parceiros a mesma perplexidade diante da deterioração de um vínculo que ambos prezavam - mas do qual ambos descuidaram, por desencanto ou distração.

Remonta aos gregos o mito do ser hermafrodita, que, cortado ao meio, viu-se condenado a passar a vida em busca da metade que lhe devolveria a completude. Viria daí a imensa necessidade do ser humano de procurar pelo parceiro certo para sentir-se enfim inteiro.

A idéia sobrevive até nossos dias praticamente sem transformações: continuamos a acreditar que existe um outro que nos completa, sem o qual permanecemos como inválidos, incapazes de dar conta de nossa fragilidade. Ao encontrá- lo, já não precisaríamos fazer mais nada, a não ser descansar à espera da conseqüência natural: "felizes para sempre". Expressões como "a metade da minha laranja", "minha cara-metade", "feitos um para o outro" confirmam o mito e reforçam a idéia de que, uma vez formado o casal, a relação amorosa estaria pronta e acabada. Ledo e perigoso engano.

As pessoas que se prendem a essa fantasia tendem a desistir do relacionamento diante da primeira dificuldade, guiadas pela crença de que, se o encaixe não é perfeito, houve engano na escolha do parceiro. Algumas passam a vida nessa busca, outras optam por relações episódicas, sem intenção de continuidade ou aprofundamento. Os casais que têm mais chance de permanência são os que se dão conta de que a perfeição não faz parte do universo dos humanos - e se dispõem a batalhar para tornar o relacionamento vivo e gratificante, abertos à descoberta de si mesmos e do parceiro.

Difícil é a tarefa de revolver e adubar esse chão, tantas vezes calcinado por mágoas e ressentimentos. É preciso mantê- lo poroso e fértil, livre das ervas daninhas, que aí medram com facilidade. Lavrar o território afetivo é cotidiano trabalho para toda a vida. Mas o aprendizado do amor não é mesmo tarefa para preguiçosos nem distraídos.