1 de fev. de 2010

"O último tango em Paris" por Ivan Martins


"Vi no domingo, pela terceira ou quarta vez, O Último Tango em Paris, filme de Bernardo Bertolucci que ficou famoso no início dos anos 70 pelas cenas de sexo entre Marlon Brando e Maria Schneider.


Todo mundo já ouviu falar do momento em que o personagem de Brando lubrifica a amante com manteiga e a força a fazer sexo anal no chão do apartamento. Tornou-se um clássico do cinema.

Maria Schneider contou mais tarde que a cena não estava no roteiro original, que foi uma ideia de última hora de Brando – não de Bertolucci – e que ele a convenceu a participar da encenação alegando que “era apenas um filme”.

Ela tinha 20 anos, fazia seu primeiro trabalho no cinema e sua imagem nunca mais deixou de estar associada à cena da manteiga.

Para Brando, que já era um astro aos 48 anos, o custo do escândalo foi zero. Apenas confirmou sua fama de rebelde.

Para Schneider o custo foi alto. Antes que a década de 1970 terminasse, ela seria internada em clínicas psiquiátricas, teria problemas com drogas e tentaria se matar. Era famosa, parecia ter talento, mas sua carreira artística não avançou.

É possível ler essa história de várias formas, mas uma delas é simples: diante da mesma ousadia, homens e mulheres são julgados de formas totalmente diferentes. As mulheres, com mais severidade.

Feito esse comentário lateral, eu gostaria de falar do próprio filme. O Último Tango é talvez um dos filmes mais masculinos que já foram feitos. Seu personagem principal é um herói romântico às antigas: solitário, viril, autodestrutivo e furiosamente independente.

Mesmo perdido, mesmo destroçado pelo suicídio de sua mulher, ele ainda é capaz de seduzir a jovem de quem se aproxima – e a quem oferece pouco mais do que a sua força, seu sarcasmo e o seu desespero na forma de desejo.

É improvável que nos tempos atuais qualquer cineasta tivesse coragem de colocar na tela um homem tão confiante em si mesmo, um sujeito tão ostensivamente desdenhoso da boa conduta, um macho agressivo e misógino capaz de generalizar sobre as mulheres: “Elas fingem saber quem eu sou e querem que eu finja que não sei quem elas são”. Ninguém mais diz essas coisas no cinema, exceto os sociopatas.

Mas Paul não é o bandido do filme, ele é o herói. Um ex-revolucionário, ex-lutador de boxe, ex-músico, ao final rufião e vagabundo para quem a jovem amante é apenas um objeto de poder, uma gostosinha infantilizada sobre a qual pode exercer sem limites sua dor e sua raiva.


Ao mesmo tempo, paradoxalmente, é o homem sensível que chora em silêncio, o viúvo que conversa placidamente com o amante da mulher morta, o violador que exige que a sua vítima também o viole, com os dedos.

O Paul criado por Marlon Brando (ou melhor, extraído dele a fórceps por um Bertolucci manipulativo e cruel, segundo contam) é um homem complexo, mas inteiro. Ele conhece o seu papel no mundo. Ele exige o seu lugar aos berros, ele procura o seu desejo na marra, certo ou errado, até o triste fim. É um macho às antigas.

Seu contraponto é o jovem namorado da heroína, Tom, traído durante todo o filme: um rapaz feliz, impetuoso, cheio de sonhos artísticos. Ele não enxerga a complexidade da mulher que tem ao lado, não percebe as suas profundidades e as suas sombras, suas inconfessáveis necessidades. Percebe apenas um personagem que ela representa, enquanto Paul descobre nela outra mulher. Tom representa o homem moderno, burguês e convencional, na sua visão idealizada e respeitosa das mulheres.

Ao final, esse homem domesticado e doce prevalece. O macho antigo – embora sedutor, embora majestoso na sua integridade – é incapaz de viver na normalidade contemporânea. Ele não cabe fora da alcova. É autodestrutivo e perigoso. É um marginal. A violência dele, que de início incendeia a paixão, ao final assusta a jovem amante de maneira mortal.

Será que Bertolucci nos dizia, já em 1972, que não havia mais lugar no mundo para esse tipo de macho não domesticado?

Eu não sei. Sei que O Último Tango em Paris é um filme perturbador. A primeira vez que o vi eu tinha 13 anos e só percebi a nudez cheia de pelos de Scheneider e a intensidade das cenas de sexo. O resto do filme era virtualmente incompreensível. E irrelevante.

Hoje, passados quase 40 anos, o sexo do filme nem ensina e nem escandaliza. O que me comove é ver Brando interpretando um homem sem amarras, um tipo visceral dançando cheio de empáfia e melancolia à beira de um abismo.

Acho que há um pouco desse homem em cada um de nós. E que há também um pouco de nostalgia dele. Modernos, civilizados, racionais que somos, uma parte de nós reclama o direito de ser a besta poderosa que não teme as mulheres e nem se preocupa com as mulheres. Embora, contraditoriamente, sofra e morra por elas."


Ivan Martins é editor executivo da revista Época.

História de amor no Haiti. Por Eliane Brum

Trouxe esse texto escrito por Eliane Brum, colunista da revista Época. Só uma repórter de muita sensibilidade e inteligência escreve. Confesso que fico triste em saber que tem gente que se sensibiliza em dia de paredão do BBB quando o participante encontra a família. Tem gente que chora. E eu também fico com vontade de chorar, mas de desânimo de ver tanta futilidade nos sentimentos. Como falei no post que escrevi sobre fama e afins, não sou daquelas pseudos-intelectuais que não assistem BBB e que acha tudo que é cultura insuper inútil demais. Seria radicalismo e hipocrisia dizer que nao dou uma espiadinha quando Bial me instiga a continuar ali na TV. Mas o que acho realmente indigno é uma pessoa não se sensibilizar com tragédias como a do Haiti. E, mais que isso, nem precisa ser a tragédia da vez. Não se sensibilizar com os pais que espancam filhos, com pedófilos e outros humanos podres. Não sou a favor do chororô e depressão porque o mundo é uma droga. Mas por favor, vamos criar nossos filhos ensinando os verdadeiros valores e o que realmente pode nos sensibilizar, afinal o futuro do mundo pertence as próximas gerações. Quem sabe construiremos um mundo melhor, eu ainda tenho esperança. Que tal mostrar pro seu filho (a) rebelde "pré-aborrecente" que reclama de tudo,  esse texto?



História de amor no Haiti

"Seis dias depois do terremoto, Roger continuava diante das ruínas do prédio onde estava sua mulher, Jeanette, em Porto Príncipe. Não é possível alcançar, só podemos tentar vestir a pele do homem diante do monte de pedras. Debaixo delas, está a mulher que ama. Para todos, morta. Para ele, viva. Roger grita o nome de Jeanette. Diante de tantas dezenas de milhares de mortes, seu drama era apenas mais um. Mas não existe mais um. Existe o mundo inteiro em cada um. A vida só faz sentido se o homem com os olhos vermelhos fixos nas pedras for ele e todos nós.
De repente, alguém ouve um barulho. Uma voz entre os escombros. “Ela está viva!”, grita Roger. Agora, há um pequeno buraco. O repórter da TV americana enfia por ele um microfone para falar com Jeanette. Ela não come há seis dias, não bebe água há seis dias, não se move há seis dias. Enterrada viva, há seis dias Jeanette respira com dificuldade na escuridão. Tem os dedos da mão quebrados, sente dor. Jeanette tem algo a dizer. O que ela diz? Ela manda um recado para Roger: “Eu te amo muito. Nunca se esqueça disso!”.

Roger pega o que parece ser um pedaço de ferro da estrutura do prédio e começa a cavar.

Fiquei tentando abarcar o que é cavar pedras com um pedaço de ferro, com as mãos, para retirar dali um amor. Acho que não cheguei nem perto.

O que faz meu coração falhar uma batida, para além da tragédia, é o que Jeanette escolhe dizer a um minuto da morte. O que importa a ela registrar depois de seis dias soterrada, 144 horas, 8.640 minutos, cada um deles eterno. Tudo o que importa para Jeanette, que não sabe se vai sobreviver, é afirmar seu amor ao homem que ama. Diante da morte, esta era a frase de uma vida.

Este pequeno drama, um entre dezenas de milhares, explica por que, contra todas as catástrofes, a escravidão e os sucessivos abusos cometidos pelas potências de cada época, a exploração e a violência, as bolachas de lama, as tantas misérias, a falta de tudo, o Haiti vai sobreviver. Mesmo sem quase nada, Jeanette e seu povo ainda tem o que perder.
O que você diria se fosse Jeanette?

A história de Roger e Jeanette nos remete ao que dá sentido à vida. Ao que realmente importa para cada um de nós. Soterrada pelas ruínas do seu país, a haitiana Jeanette ensina o mundo inteiro. Não porque quer nos dar alguma lição, mas porque Jeanette é. Inteira, ainda que aos pedaços em meio aos cacos simbólicos e reais de um povo, de uma nação.

Como repórter, já escutei sobreviventes das mais diversas tragédias, ou apenas diante da catástrofe inescapável que é o fim da nossa história quando a vida chega ao fim. Ninguém sente saudades do momento em que teve seus 15 minutos de fama ou brilhou em algum palco ou ganhou um aumento de salário ou foi chefe de alguma coisa ou botou um peito turbinado ou emagreceu seis quilos ou comprou uma casa ou um carro zero ou uma TV de tela plana. Diante do momento-limite, somos levados não aos grandes bens ou aos grandes planos, mas aos detalhes cotidianos que em geral passam despercebidos, quase esquecidos em nossa pressa rumo às grandes aspirações. O que nos falta é aquilo que nos preenche a cada dia sem que nos demos conta. Aquilo para o qual, em geral, não temos tempo.

Será que é preciso quase morrer para lembrar de viver?

Nem sempre há uma segunda chance. Sem saber se teria uma, Jeanette nos lembra, com seu recado muito particular, daquilo que é universal. Seja você uma moradora do país mais pobre das Américas nos escombros de um terremoto, seja você um bombeiro de Los Angeles, como aqueles que tentavam resgatá-la, seja você uma brasileira que escreve sobre ela, como eu, ou um brasileiro que lê este texto, como você. Jeanette nos lembra que o que nos iguala em nossa condição humana é o que, de fato, faz diferença. Pelo buraco, ela nos lembra que a vida é sempre urgente. A vida é para hoje, a vida é para já.

Depois de três horas, Jeanette foi arrancada dos escombros. Viva. Saiu de lá cantando uma música cuja letra dizia: “não tenha medo da morte”. Assim que emerge das ruínas, logo depois de receber os primeiros-socorros, Jeanette entra no carro de Roger e parte. Bem empoeirada, sem nenhum drama. Como se tivesse resvalado na calçada e machucado a mão num dia qualquer. E o marido lhe desse uma carona para casa. Como boa sobrevivente, Jeanette reinventa a normalidade.

De novo, Jeanette tem algo a nos ensinar. Ela sacode a poeira e parte rumo ao cotidiano porque a vida tem de continuar, a vida deve se impor. É possível seguir quando, mesmo nos sentindo aos pedaços, sabemos o que é essencial, o que realmente importa, o que faz nosso coração bater mais rápido. No caso de Jeanette, o seu amor por Roger. E, mesmo se Roger faltasse, acredito que Jeanette ainda assim deixaria as pedras para trás e partiria rumo a muitos recomeços, porque só ama o outro com esta inteireza quem ama muito a vida que é.

Jeanette nos ensina que mais triste que a morte é uma vida desperdiçada com aquilo que não importa."

Carla Brum é repórter da revista Época

Parto natural, e, em casa? Tomara que essa moda pegue!



Uma prima minha optou pelo parto humanizado e deixou muita gente escandalizada. "Ohhh! Parto em casa? isso é coisa de doido! Em tempos de hospitais? porquê isso, pra quê isso?" Patrícia Arouca, dentista, pessoa informada e determinada, preferiu contar so depois de ter sua filha na casa do seu irmão, pois sabia que seria alvo de críticas e preconceito. Acompanhada pelo marido, cunhada e as parteiras preparadas, deu a luz à Nina. Uma linda menina que hoje tem 4 meses. O que  Patrícia e a top Gisele Bundchen tem em comum? as duas tiveram seus filhos em casa.

O parto humanizado é uma alternativa saudável quando a gravidez é assistida e tem indicação para tal, ou seja é uma gestação de baixo risco. Não é uma atitude enlouquecida e hiponga como muita gente pensa.  É um ato de amor e que tem inúmeras vantagens, dentre elas a interação mamãe e bebê imediata.

Isso não significa que o parto cesárea ou com intervenção médica não possa ser humanizado. O parto cesárea existe para salvar vidas, mas não deveria ser a grande maioria dos partos como acontece hoje e sim como em último caso. O problema é a consciência das mulheres em relação a isso. Com medo da dor, elas optam pela cesárea.

 Eu particularmente acho que a mulher que tem tudo para ter um parto natural e faz uma cesárea tem uma atitude covarde. Sim, me desculpe se você que está lendo agora se doeu e acha que eu estou julgando. Mas não tem como não julgar. Sinto muita pena do sexo feminino interferir e enfraquecer diante de um ato que faz parte da nossa natureza. Se algumas têm medo de ter um parto normal, ressalto novamente, com tudo ok para tê-lo, imagina a capacidade dessas mulheres de enfrentar a vida.

Me surpreendi com Bundchen. Ela sempre foi simpática, mas tinha aquele jeito meio "crianção". Quando vi a chamada no Fantástico dei nota mil e vi que ela faz jus ao título "mulherão. Comemorei, deixei recado no orkut da minha prima que também comemorou. "O movimento pelo parto humanizado está em festa por causa da entrevista dela", foi a resposta que recebi  no orkut. Até me arrepiei porquê eu sou uma grande defensora do parto normal, sempre quis ter filhos assim. Me identifiquei muito quando a Gisele falou: "eu queria sentir tudo e foquei o tempo todo nele que estava saindo."

 Eu também gostaria de ter sentido e de não ter a cicatriz que tenho hoje. É pequena e discreta. Mas não gosto dela.

 Meu filho nasceu de um parto cesárea, vítima da minha ignorância há 11 anos quando a médica me informou que teria que ser cesárea por ele estar "laçado". Na hora eu fiz o que ela mandou. Depois senti muita dor, MUITA! Eu nao conseguia colocar minhas pernas sozinha na cama. Eu sentia coceira por todo corpo. Eu passei muito tempo com aquele corte formigando, meses. Senti enjoo. Tive gases em excesso que me constragiam e me faziam sentir uma sensação de inchaço como se eu fosse um balão gigante. Ui, que triste! Fazer curativo no corte para mim era momento doloroso. Tomava injeção anti-inflamatória mesmo depois de 20 dias. Sentia fisgadas dentro de mim que me deixavam louca de dor. Odiava fazer o curativo. Até hj sinto agonia pra depilar em cima do corte. Nao conseguia me abaixar e calçar meu sapato sozinha por semanas. Eu andava devagar. Bundchen estava felicissima, se abaixava normalmente e fazia panqueca um dia depois de ter seu filho.

Segundo meu tio que também é obstetra, não ter filho por ele estar laçado é uma boa desculpa para os médicos que não tem tempo para fazer um parto normal. É muito comum o bebê se laçar no cordão e isso não interfere na maioria dos casos. Pesquisei depois melhor sobre minha médica e soube que no currículo dela não constava partos normais. Ela era conhecida na cidade e tinha dia que ela fazia mais de 3 partos por dia. Era cômodo e mais lucrativo partos cesareanos.

Fica aqui o meu registro como mulher que teve um parto cesárea e que tinha tudo para ter um parto normal. Eu fui pra maternidade com 6 cm de dilatação, meu filho estava completamente encaixado e chegou a nascer com um "v" na testa da marca do encaixe.


Depois engravidei em seguida, e para mulheres com parto cesárea há pouco tempo, não há indicação para parto normal, por ser recente há risco de ruptura. Por isso, nao pude novamente. Hoje, meu filho mais novo está com 9 anos e já planejo com meu namorado um filho mais pra frente. Não tenho mais indicação para parto humanizado por já ter tido cesárea, mas a notícia boa é que se tudo correr bem agora, com esse intervalo grande, tempo suficiente para o útero estar "zero bala", posso ter um parto normal.
Então quem sabe mais pra frente, volto aqui no meu blog dirigido ao universo mulherio, para contar como foi?

Quanto à Giseli, nota mil patra ela. Tomara que pessoas famosas continuem trazendo contribuições sociais para divulgar assuntos relevantes como esse. A top mostrou que está na moda ser informada e não ter preconceito. Fora que ela ja voltou a trabalhar com o filho com 6 semanas e mostrou que quem quer mesmo e tem ajuda da família, ou assistentes, consegue ser mãe e continuar trabalhando. Esse negócio de "ah, não da para ser mãe e trabalhar" é outro papo furado.

 Agora quando alguém optar pelo parto normal e humanizado, beeem menos gente irá dizer "ohhh!, porquê???"

Bjos!!!
Liah