31 de jan. de 2011

Revistas femininas são feitas realmente para mulheres modernas?


Carta para a editora chefe da revista Marie Claire


Queridas leitoras, fiquei tão indignada com as últimas edições da Marie Claire, quando se referem à sexualidade feminina, que resolvi mandar uma carta pra editora chefe da revista. Mas o e-mail voltou. Aí deixei pra lá. Mas hoje recebi minha Marie Claire desse mês. E mais uma decepção! No editorial, Mônica Serino, fala apenas do machismo que as iranianas e mulheres mulçumanas sofrem. Sequer cita o machismo como um problema cultural social que leva à morte diariamente muitas mulheres aqui também no Brasil. Como sei que ela não vai ler meu e-mail, eu vim aqui compartilhar e extravasar todo meu sentimento de indignação com vocês. Fiquem à vontade para ler e opinarem!

Querida Mônica,

Sou jornalista e assinante da Marie Claire. Gostaria muito que você lesse meu e-mail. Já tentei outras vezes, mas sem sucesso. Gostaria de ser uma colaboradora em alguma edição para fazermos uma reportagem sobre a influência negativa do machismo no Brasil. Mas tomei um susto quando li o seu editorial na Marie Claire desse mês.

Muito contraditório você afirmar que nós, mulheres ocidentais temos todos os direitos.... e direitos culturais, será que também temos? As duas ultimas edições foram recheadas de reportagens com pitadas machistas. Profissionais afirmaram que homens e mulheres são diferentes em instintos sexuais. Se é verdade que somos diferentes, como podemos tudo? Como é natural termos "PA's" (paus amigos, é matéria desse mês também) à torto e à direita?

Em que mundo você vive? eu vivo em um onde as cientistas mulheres ainda não tem tanta vez quanto os homens. Onde não conseguimos ainda provar que homens são racionais sexualmente, portanto controlam tanto seus instintos quanto nós. Eu vivo em um onde as mães não estimulam as filhas a entrarem na política, mas sim em um bom casamento.

Os números de mulheres na política e nas empresas ainda são ridículos. O senso comum se sobrepõe à lógica. As revistas femininas deveriam ter obrigação em contestar e informar às mulheres, que implícitamente - não explicitamente quanto em outros países onde religião e lei se fundem para detonar as mulheres- somos vítimas, sim ainda de uma socieade machista.

Prova disso, são a quantidade de estupros, a violência doméstica e mortes de mulheres no Brasil. Eliza Samúdio virou notícia porquê tinha celebridade envolvida no caso... Quantas mais Elizas morrem por simplesmente serem consideradas "vagabundas" por eles? Eles "comem", pois eles podem, afinal isso é instinto, segundo a Marie Claire e outras revistas femininas. Já elas, "deram" porquê são "vagabundas"?

Fiquei realmente decepcionada quando abri minha Marie Claire de dezembro me deparei com mais uma matéria clichê sobre sexo quando se trata de gênero feminino. O sexólogo Gerson Lopes diz que a sexualidade feminina é mais completa, depende de ações mais completas e não complexas. Foi aplaudido! Isso me deixa mais indignada. estamos sempre justificando o machismo que prega o manual social quando o assunto é sexo.

Mulheres podem perfeitamente se excitar também apenas com estílmulo visual, tendo ou não uma vida sexual com amor. Super clichê esse tipo de pensamento que as revistas femininas insistem em dizer. Além do machismo onde diz: "mulheres têm que ter mais mais sentimentos para transar, os homens transam por qualquer coisa. Será que toda mulher é igual? Será que a regra se aplica aos gêneros? Se aceitarmos essa regra, vamos ter que aceitar infidelidades masculinas com mais naturalidade, não?

Na minha opinião, o homem atual também têm uma sexualidade completa. Eles também preferem, em sua maioria, sexo com amor. Mas nem sempre estamos em fases amorosas nas nossas vidas, e a curtição sexual pode ser para ambos os sexos, sem a tachação: "mulheres têm que ter mais envolvimento". A partir do momento que se distingue comportamentos sexuais, se cria preconceitos. Esse tipo de "ciência" social é retrógrada, cultural, não é comprovada e ajuda os homens a pensarem que sexo pra eles é mais instintivo e animal.

Discordo completamente, apesar de saber que muitas mulheres acreditam nessa crendice.

Como não acreditar nisso, se as revistas e a sociedade impõe como verdade? É preciso pensar fora do contexto do senso comum, e é preciso reciclagem nas informações quando o assunto é sexo. Abrimos uma revista em pleno 2010/2011 e vemos as mesmas referências sobre sexo dos gêneros. A excitação de um homem e de uma mulher não pode ser generalizada respectivamente pelos seus gêneros e sim por cada individualidade. As pessoas são diferentes, não só os genitais!

Em seguida, li Rodrigo Veronese falando de "relógio biológico feminino", parei de ler por aí, me recusei a continuar. Casar e transar com amor, não é uma necessidades biológica feminina! Querer amor e atenção é uma necessidade humana! Quanto sexismo, quanto preconceito!

Sei que vocês darão pouco ou nenhuma atenção para o que digo, mas precisei mandar esse e-mail, mesmo que seja uma tentativa de fazer alguma coisa contra esse tipo de "ciência" defasada.

Como essas ditaduras entre os sexos são uma constante em revistas femininas, não??

Já pararam pra perceber que com esses conceitos que dizem que "a mulher é mais emoção" justificamos os estupros, a violência masculina, o sentimento de posse deles em relação as mulheres e o machismo cultural se fortalece?

A única revista que eu ainda acreditava mostrar outros pontos de vistas e outros estudos, era a Marie Claire. Não foi o que aconteceu, mas ainda continuo com esperança. Espero de coração, que em alguma edição tragam outras matérias que façam contraponto com os sexólogos clichês e outros estudos científicos menos machistas.