28 de abr. de 2012

Neurótica, eu?


Quero ser cada vez mais linda. E só! 



Um dia desses eu fui numa loja falar com a dona a negócios. Enquanto eu aguardava, uma menina linda estava provando roupa. Ela se queixava da barriga dela, pois tinha tido uma nenê, que agora estava com 8 meses e ainda não tinha perdido a tal barriga que ela enxergava ter.

Eu só conseguia achar a menina linda, o corpo dela lindo, tipo ela era a própria Juju Panicat, loira e super bonita de rosto e de corpo. (A diferença é que ela não vive da imagem dela, ela contou que trabalha no setor hoteleiro).  Apesar de uma micro-mini saliência na barriga ( tipo não era pra dentro, mas nem nas atrizes de TV vejo isso, só nas capas de revistas), o corpo era perfeito. Ela devia ter 1,67, por aí e e 50 kg no máximo.

Ela se queixava amargamente e as meninas da loja davam dica de clínicas de estética pra ela. O assunto ficou em torno disso, mais de uma hora, sem exagero... eu mofei lá esperando... Essa cena eu já presenciei em pelo menos mil grupinhos de amigas dos outros. Principalmente em festinhas de aniversario de crianças, filhas de mães, que não tenho muita intimidade. (Aí fica aquela cena clássica: só as mães cuidam das crias, falam horas seguidas sobre seus corpos, e os homens bebem e se divertem. Sempre acho a ala masculina mais divertida).

"Já fizeste aquela massagem indiana? E aquela marroquina? É ótima elimina mesmo. Mas o melhor mesmo, é carboxiterapia. Ou a siliconenexeria ou a botoxrugaria. Você faz uma lipo com o Dr. fulano que é ótimo, (menina, já fiz 3 vezes com ele e as 3 x, amei!) Aí depois faz uma manutençãozinha de 3 x por semana na clínica de estética. Nos outros dias, vou ao salão e faço bronzeamento artificial, hidratação no cabelo, cuido das minhas unhas e sobrancelha. Também quero arrumar tempo pra malhar, estou achando meus braços meio flácidos, olha aqui! " Disse a tal moça apontando para seu braço normal, de uma pessoa de peso e estatura mais pra magra do que pra gorda.

E depois somos nós, feministas, que lutamos contra essa ditadura infeliz, que somos neuróticas. Vai entender!!!!






PS: Que fique claro, não sou contra estas mulheres, apenas tenho pena, pois acho que todas elas podem ser muito mais do que só rostinhos bonitos.

22 de abr. de 2012

Feminismo nosso de cada dia


Feminismo nosso de cada dia

Porquê mulheres fortes e independentes ainda são machistas?

Eu tenho 37 anos, 2 filhos. Sei que ninguém precisa se expor, mas me exponho. Tenho orgulho de ter mudado e de hoje ser feminista. Tentar contribuir com um mundo melhor para as mulheres. Costumo dizer que se eu ajudar uma mulher que seja, SÓ UMA que esteja em apuros, eu já me sinto feliz e recompensada pela minha militância. Porquê eu gostaria de ter tido essa ajuda que não tive de ninguém quando precisei. Sofri muito por machismo em minha vida.

Nem todo relacionamento é pra sempre, quisera eu ter conhecido só o lado dos homens bons e respeitadores. Quisera eu estar com meu namorado atual há mais de 10 anos e ter " dado" só pra ele, confiado só nele.  Na vida, nem sempre a gente opta, a gente simplesmente vive os momentos. Nem sempre aparece o homem da vida da gente, o mais importante é se amar. Foi bom ter vivido coisas ruins, não fosse ele, talvez fosse só mais uma mulher a reproduzir o que ouço por aí como certo e errado acerca do meu gênero.

Esse lado feminista, diga-se de passagem é o lado mais importante que uma mulher pode ter. Só se você for muito privilegiada e não passou por momentos tristes por causa do machismo. Duvido muito. Impossível. Pelo menos uma vez na vida alguém vai te deixar se sentindo péssima. E pode crer minha amiga, 90% das vezes que você sentir culpa, será por causa do machismo.

Caso não sejas privilegiada, bem vinda ao grupo das oprimidas. Nem sempre é necessário sair com faixas feito "loucas" no meio da rua. Se mudamos nossa cabeça, já estamos contribuindo.

Não sou Cristiane F, drogada e prostituída. Mas tive meus problemas. Infelizmente sofri muito, fui ignorante, me submeti a certas coisas que hoje só de lembrar me dá calafrios. Passou, ainda bem! Aprendi muito e aprendi que não é só na favela que se apanha. Não é só mulher submissa, sem escolaridade que é agredida verbalmente e fisicamente. É um pesadelo ver que está acontecendo com você, logo você, uma mulher forte, independente financeiramente, bem resolvida, que faz o que quer com seu corpo. Eu fumava, bebia, nunca me importei se alguém achava feio ou bonito meu comportamento.

Fui uma mulher que peitou a família e a sociedade, quando ouvia, certos comentários, respondia com indignações que ecoavam aos 4 ventos do tipo:" Isso é machismo, falso moralismo!"  Mas no fundo, essa mulher tinha medo de ser ela mesma. Foi machista a partir do momento que se submeteu e aguentou certas coisas ( tento arrumar desculpas e fugir dessa realidade, mas não tem como, fui sim!).  Aconteceu comigo sim, no passado quando comecei a me sentir mulher adulta de verdade.Tudo era confuso, os sentimentos eram todos embaraçados. Eu queria ser eu, mas sentia medo de não ser aceita. Não sabia nem o que era feminismo nessa época. Achava que era uma ideologia de lésbicas, e, só isso.

Me apegava a Deus e achava que ele era todo poderoso, praticamente o príncipe encantado que me salvaria. Fantasiava que ele existia e me tiraria daquela vida. Só ele poderia fazer uma mágica. Por dentro era hemorragia no meu peito. Sofrimento que não acabava mais, porque eu era diferente de todas? Porque só eu achava todo aquele papo de hormônios masculinos uma grande e injusta baixaria "científica" inventada? Porque minhas amigas repetiam clichês machistas, e por dentro eu dava risadas, mas não tinha coragem de falar que aquilo não fazia sentido? Porque me submeti a estar com um homem agressivo? Em nome de quê? Simples, minhas caras aprendizes: em nome da minha baixo autoestima, que acreditava que não merecia respeito.

Achava que todo homem era igual e que eu não mudaria o mundo, como ouvi de muitas pessoas quando tentei desabafar o que sentia. Várias vezes, volto a dizer, eu, que tinha fama de braba, guerreira, independente, forte. Mas tinha um deslize que era o mais grave de todos: acreditava que a culpa era minha. Eu que provocava.

Hoje sinto vergonha de não ter tido conhecimento antes. De não fazer do pensamento feminista minha filosofia de vida.  De não ter questionado se Deus tinha tempo mesmo pra ver minha situação (No mínimo, eu deveria ter pensado: com tantas crianças morrendo de fome na África, ele realmente estaria preocupado comigo que tinha comida na mesa?). De não ter procurado fazer minha vida melhor, em vez de esperar por uma fada encantada. De não ter seguido mais meu coração em vez de dar ouvidos pra o que me ensinavam que era felicidade, " verdade" ou " certo".

Não me faço de vítima, EU FUI vítima. Vítima de um sistema desumano, injusto e criminoso que  nem tem nome é um conjunto chamado: sociedade, religião e moralismo.

Aí o tempo passou. Não foi um belo dia, foi aos poucos. Conforme os anos foram passando, fui mudando meus pontos de vista... me libertei, vivi sozinha um bom tempo. Ouvi falar do tal feminismo, vi mais mulheres querendo ser livres... Livres de verdade! Sem hipocrisia! Vi minha vida se libertar porque eu mudei, eu me ajudei, eu abri minha mente. Descobri que muitas coisas eram mais importantes do que ter um homem, belos sapatos altos, roupas, sobrancelha feita, pele perfeita, corpo cuidado e uma família de propaganda de margarina. Caiu por terra boa parte do que eu adorava ler na revista Nova, Cláudia e afins.

Resolvi ser eu. A fama de chata, sincera demais e desagradável aumentou. Ouvi o povo dizer que minhas ideologias eram de adolescente e que mudariam conforme eu ficasse mais velha. Mas que nada, parece que quanto mais velha fico, mais sou sonhadora, mais tenho esperança! Gosto de pensar que unidas venceremos. Mesmo sabendo que corro risco de me iludir, mesmo assim adoro pensar assim.  Acredito que felicidade é não ser alienada sobre nosso gênero. É a ignorância que faz a mulher ser machista e infeliz. Ser feliz, definitivamente, não é agradar todo mundo. É agradar si mesma.

Hoje o pensamento é parecido com o daquela época: Porquê, por que sou tão diferente de tantas? Ainda há aquela ânsia no meu peito, aquela inquietude. Mas agora sou muito mais feliz tendo noção das respostas. O feminismo elucidou minha cabeça. Gostaria de poder ter lido ou escrito esse texto aos 17, 18 anos. Mas nunca é tarde.