17 de set. de 2014

Você tem medo de quê?

Você pensa diferente, tem uma lógica diferente sobre a vida em sociedade e sobre vários assuntos, por isso, aparece milhões para dizer que vc não respeita os outros, que vc é louca, que vc quer impor sua opinião... mas as opiniões já consolidadas no senso comum, pode, né?  Vc não é uma pessoa louca, vc é gente boa demais, vc é ótima, super simpática! Nossa não tem quem não goste de fulano(a)! Claro, fulano (a) tem medo de opinar, quando opina, fala coisas que todos estão acostumados, não se revolta com nada, diz que o mundo é assim e pronto. A sociedade sabe para quem dá o título de "revoltado (a)" e "infeliz". É impossível ver as coisas erradas do mundo e ser feliz. Pra ser feliz, só sendo mais um a aceitar tudo. Qualquer sinal de protesto, significa amargura profunda, ou coisa de adolescente. A receita da felicidade, é reproduzir exato aquilo que agrada a maioria? Existe receita então? Que medo as pessoas tem de serem vistas como infelizes! Pânico! Mas garanto que muitas dessas engasgadas, "agradadoras" e puxas sacos, são as verdadeiramente infelizes.

Então continuemos fingindo que somos os mais felizes, os mais amados, os mais queridos? E sobre o que precisa mudar no mundo, não mudamos? Esperamos que Jesus volte e faça milagres??

Frase que jamais direi aos meus filhos: Aceite o mundo como ele é, meu filho (a). Enquadre-se. Não tenha opiniões diferentes pq sempre serão vistas como opinião de gente radical, chata, alucinada, que fuma maconha, imatura. Frase que direi a vida toda: Dá pra ser feliz, sendo você, contribuindo por um mundo mais justo, revendo seus privilégios, seus conceitos. Incomode, não se renda, não ouça aqueles que estão na zona de conforto. Seja mais um a apertar o botão: evoluir.  

  #cansada #sociedadehipocrita #somostodosprogramados

13 de set. de 2014

"Hoje em dia já temos igualdade..." Será mesmo?

Aos 6, 7 anos, eu estudava em um dos melhores colégios particulares de minha cidade. Minha melhor amiga era negra. Eu era criança e não tinha ainda conhecimento do que era racismo, portanto, pra mim, ela era sinônimo de elegância e beleza, até por que, desde que me entendi por gente, eu achava que meu sotaque (nordestino) era feio. Pelo menos, nas novelas e na TV ninguém falava como eu. Chique mesmo, era chiar no ti e di. (tchi e dhi, como quando eu brincava de novelinha). Logo, eu achava que ela era superior.

Um belo dia, outras colegas minhas me disseram que ela devia ser a filha de empregada. Fiquei sem entender, mas aos poucos fui percebendo que a maioria das empregadas eram negras e por isso, o comentário. Logo, fiquei confusa, mas entendi: mesmo ela falando "chique", ter aquela cor de pele, não era legal. Sou morena, mas comecei a achar que devia tomar menos sol. Assim foi até a adolescência, quanto menos sol melhor, pois a referência que eu tinha de beleza, era que quanto mais brancura melhor. As vezes as bochechas bronzeadas de vermelho, no máximo, mas as pernas e joelhos, eu achava feio se ficassem escuras.

Com o tempo, fui reforçando a ideia que mulher tinha menos capacidade, pois era o que via na TV e em todo canto. Meu pai dava a entender que minha mãe era burra e menos capaz em muitas coisas. Mas dizia que, quando ela era nova, era linda e que isso bastava, pois uma mulher não precisava ser inteligente, a prioridade era ser bonita. Já adolescente, meu irmão mais velho, contou para todos, que um dia pegou minha mãe e meu pai transando, ( nessa época minha mãe não era mais tão jovem assim), então ele riu, disse que minha mãe era uma " trepeça" e que não entendia como meu pai ainda a comia.

Cada vez mais eu parecia com minha mãe e diziam que eu estava ficando muito bonita. Meu pai tinha certeza que eu era a cópia dela, me tratava com carinho, sempre foi um cara ótimo comigo, mas nunca acreditou que eu fosse inteligente e deixava isso claro. Minha irmã e meu irmão mais velho, tinham os olhos verdes dele e ele dizia que os dois tinham puxado a ele ( ele é um homem de sucesso, formou-se na Universidade Federal e conquistou muitas coisas). Minha irmã casou aos 19, com o namorado que tirou sua virgindade, era mocinha, eu era de festa e queria experimentar coisas. Muitas confusões por isso. Eu não era só burra, mas também "banda voou" ( gíria no interior que quer dizer " vagabunda").

Voltando à minha infância, outro dia, no pátio da escola, eu e minha amiga negra, trocávamos papel de carta (eu era a única amiga dela, até hoje não sei porque) e conversava e ela disse que o pai era jogador de futebol de um time conhecido. Foi aí que comecei a perceber que tinham poucos negros na sala e quando tinham eram filhos de ricos.

Mas somos loucos, racismo e machismo não existem mais. Pelo que lembro, nem 30% da minha turma era de negros. Dizem que racismo não tem nada a ver com isso. Assim como quando eu era criança, vem a confusão mental: então quem tem a ver??? Apenas coincidência?

Mulheres são maioria pilotando fogões e lares, mesmo depois de formadas, ainda buscam a felicidade no casamento. Umas dizem que a mulher pode trabalhar, ser delegada, piloto, mas não pode deixar jamais de ser linda, magra, cuidar da casa, filhos e marido. Hoje passeando no shopping, vi uma mulher linda, de corpo escultural, com um marido gordo. Vejo bastante isso e penso que a cobrança para eles é bem menor. Eles podem ser gordos, nós não.

Se não acreditar que preconceitos existem, faça uma pesquisa ao seu redor e me diga onde está essa tal igualdade, oriunda da modernidade.

Vou fazer 40 anos de idade. Da minha infância até hoje, muito fala-se da tal equidade, mas quero saber se um dia existirá mudança de verdade.