4 de jun. de 2007

O despertar da fera adormecida


O despertar da fera adormecida


Alice vive em sociedade e se comporta de acordo com as convenções. Por isso, quando aquele casamento que já dava sinais de fracasso há bastante tempo se desmoronou, faltou o chão. Seu mundo caiu. Lá se foram 5 anos de seus quarenta. Só a terapeuta poderia ajudar, sua melhor amiga iria lhe dar aqueles conselhos batidos e ultrapassados. Ela abraçou a nova vida como quem abraça um oceano de oportunidades.

Se agarrou numa vantagem grande mas que no momento de tristeza parecia pequena. Agora, apesar da solidão, não sentiria mais a angústia da espera e a dor de cabeça quando seu marido saía para beber com os amigos. Ela, na condição de mulher, sempre sofria mais e perdoava mais os erros do seu homem que era o rei do deslize.

Lá estava ela folheando revista de celebridade no consultório quando sua mãe liga preocupada para saber como anda seu coração atormentado. Sua mãe era contra a separação, pois pensava em seu bem estar, em como seria a vida de sua filha, agora divorciada e mãe de dois filhos pequenos. Alice não hesitou em responder que estava bem para não deixá-la preocupada. Mas no fundo temia o novo mundo. Sua maior fraqueza era saber que até gostaria de ter muito mais homens , viajar e baladear. A questão que mais a assombrava volta e meia seria a mesma. Como as pessoas julgam as outras. Ela achava que uma mulher tem que se comportar porque apesar de toda ascenção da espécie, as pessoas cobram um comportamento que ainda não evoluiu muito. A análise não rendeu muito, ela até que achou legal, mas achou mais legal ainda chegar em casa ter o espaço só pra ela, fazer uma comida gostosa e se enrolar no edredon para assistir Jô Soares. Sem marido chato para atazanar e querer assistir jogo. A entrevista era com uma sexóloga, e caiu como uma luva. A especialista dizia que a mulher gostava tanto de sexo quanto o homem e que a questão cultural era que a fazia, muitas vezes, pensar diferente.

Alice pensou, pensou e acabou juntando as palavras daquela mulher tão decidida falando tão naturalmente sobre sexo, com a sua conversa na terapeuta. Primeiro a psicóloga disse-lhe que a felicidade não está depositada nos outros e sim em si mesma. Alice achou aquilo contra tudo que aprendeu. Era uma mulher moderna, mas os ensinamentos de sua mãe e de sua vó ainda estavam na sua cabeça. E ela, apaixonada pelo marido fazia dele sua fonte de felicidade e esperava o dia que ele fosse mudar e ser um bom marido. Só agora percebia uma nova pessoa brotando de dentro do seu corpo. Enquanto isso a sexóloga defendia que uma mulher pode e deve ter prazer. Para isso, precisava se permitir.

Ali nascia uma nova mulher. Despertou para a vida e decidiu ser linda, independente, inteligente e não esperar mais nada de ninguém. Não que condenasse o casamento e achasse que sexo resolvia tudo, mas havia uma nova estrutura cerebral, uma nova ordem mundial interna. Começou a agitar a sua vida. Conheceu novos homens que nem eram da sua vida, mas que lhe deram momentos agradáveis. Conheceu dissabores também como a solidão, mas muitas vezes sentia que ainda era menor do que já sentiu mesmo estando casada. Experimentou novas amizades, fez novos planos.

Agora, anda dando desculpas a terapeuta e está faltando dia sim e outro também. Prefere com o dinheirão que gastava com ela, fazer uma poupança pra viajar com as amigas. Depois de três décadas de vida, estava resgatando desejos do fundo da alma e pensando como ela queria e não como os outros. 


Depois que descobriu a fera que havia dentro de si, e que a fonte de sua felicidade só estava adormecida e foi reativada, melhorou seu desempenho profissional e foi até promovida no trabalho. Agora queria viver e curtir as delícias da solteirisse e do sexo casual. Desprendida de velhos conceitos, só vai se entregar para viver a dois (se é que vai se entregar) se por acaso, e não tão primordial, conhecer alguém muito, mas muuuito especial.

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