13 de set. de 2014

"Hoje em dia já temos igualdade..." Será mesmo?

Aos 6, 7 anos, eu estudava em um dos melhores colégios particulares de minha cidade. Minha melhor amiga era negra. Eu era criança e não tinha ainda conhecimento do que era racismo, portanto, pra mim, ela era sinônimo de elegância e beleza, até por que, desde que me entendi por gente, eu achava que meu sotaque (nordestino) era feio. Pelo menos, nas novelas e na TV ninguém falava como eu. Chique mesmo, era chiar no ti e di. (tchi e dhi, como quando eu brincava de novelinha). Logo, eu achava que ela era superior.

Um belo dia, outras colegas minhas me disseram que ela devia ser a filha de empregada. Fiquei sem entender, mas aos poucos fui percebendo que a maioria das empregadas eram negras e por isso, o comentário. Logo, fiquei confusa, mas entendi: mesmo ela falando "chique", ter aquela cor de pele, não era legal. Sou morena, mas comecei a achar que devia tomar menos sol. Assim foi até a adolescência, quanto menos sol melhor, pois a referência que eu tinha de beleza, era que quanto mais brancura melhor. As vezes as bochechas bronzeadas de vermelho, no máximo, mas as pernas e joelhos, eu achava feio se ficassem escuras.

Com o tempo, fui reforçando a ideia que mulher tinha menos capacidade, pois era o que via na TV e em todo canto. Meu pai dava a entender que minha mãe era burra e menos capaz em muitas coisas. Mas dizia que, quando ela era nova, era linda e que isso bastava, pois uma mulher não precisava ser inteligente, a prioridade era ser bonita. Já adolescente, meu irmão mais velho, contou para todos, que um dia pegou minha mãe e meu pai transando, ( nessa época minha mãe não era mais tão jovem assim), então ele riu, disse que minha mãe era uma " trepeça" e que não entendia como meu pai ainda a comia.

Cada vez mais eu parecia com minha mãe e diziam que eu estava ficando muito bonita. Meu pai tinha certeza que eu era a cópia dela, me tratava com carinho, sempre foi um cara ótimo comigo, mas nunca acreditou que eu fosse inteligente e deixava isso claro. Minha irmã e meu irmão mais velho, tinham os olhos verdes dele e ele dizia que os dois tinham puxado a ele ( ele é um homem de sucesso, formou-se na Universidade Federal e conquistou muitas coisas). Minha irmã casou aos 19, com o namorado que tirou sua virgindade, era mocinha, eu era de festa e queria experimentar coisas. Muitas confusões por isso. Eu não era só burra, mas também "banda voou" ( gíria no interior que quer dizer " vagabunda").

Voltando à minha infância, outro dia, no pátio da escola, eu e minha amiga negra, trocávamos papel de carta (eu era a única amiga dela, até hoje não sei porque) e conversava e ela disse que o pai era jogador de futebol de um time conhecido. Foi aí que comecei a perceber que tinham poucos negros na sala e quando tinham eram filhos de ricos.

Mas somos loucos, racismo e machismo não existem mais. Pelo que lembro, nem 30% da minha turma era de negros. Dizem que racismo não tem nada a ver com isso. Assim como quando eu era criança, vem a confusão mental: então quem tem a ver??? Apenas coincidência?

Mulheres são maioria pilotando fogões e lares, mesmo depois de formadas, ainda buscam a felicidade no casamento. Umas dizem que a mulher pode trabalhar, ser delegada, piloto, mas não pode deixar jamais de ser linda, magra, cuidar da casa, filhos e marido. Hoje passeando no shopping, vi uma mulher linda, de corpo escultural, com um marido gordo. Vejo bastante isso e penso que a cobrança para eles é bem menor. Eles podem ser gordos, nós não.

Se não acreditar que preconceitos existem, faça uma pesquisa ao seu redor e me diga onde está essa tal igualdade, oriunda da modernidade.

Vou fazer 40 anos de idade. Da minha infância até hoje, muito fala-se da tal equidade, mas quero saber se um dia existirá mudança de verdade.

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