12 de mar. de 2010

Contra o tráfico de mulheres e crianças

Resolvi fazer uma retrospectiva nas minnhas revistas ( coleciono muitas, mas tem que ser no máximo por dois anos, senão tenho que criar uma revistoteca aqui em casa. Aliás, até tenho uma ideia para as editoras, porque elas nao fazem as revistas virtuais e fazem as assinaturas mais baratas para quem optar por assinar de forma ecologicamente correta? É, ganham muito menos, mas será que não ganham com o volume? e ganham mais leitores por ser mais um produto gerado? Não precisaria extinguir as de papel, somente dar a opção. kkk Como sempre eu viajooo!) Bom, voltandooo, na busca eachei matérias e entrevistas interessantes de mulheres feministas, então to arrancando as paginas e guardando numa pasatinha. E tô achando muiiita coisa legal. Toda vez que eu tiver um tempinho vou dar um google nelas pra copiar e colar aqui pra vcs. Quero postar as mais legais e que ainda são atuais.

Para começar, com vocês, a heroína Priscila Siqueira! revista Claudia, Abril/2009
(Segue fragmentos que achei mais interessante).
Priscila Siqueira

Contra o tráfico de mulheres e crianças
(Por Patrícia Negrão)

"Quem suporta conviver com o fato de uma criança, mantida prisioneira em um bordel, ter o intestino perfurado durante uma relação sexual?”, pergunta com indignação a jornalista Priscila Siqueira, 69 anos. Em sua casa, em São Sebastião, no litoral paulista, ela conta que, desde 1996, passa boa parte do seu tempo em viagens pelo país e pelo exterior. Oobjetivo: denunciar o tráfico humano para exploração sexual e exigir medidas oficiais para acabar com ele. “ Muita gente ainda duvida de que esse comércio exista ou fica indiferente, talvez acreditando que oproblema é grande demais para ser enfrentado”, diz

 Seu primeiro contato com o tema deu-se na Suécia, no 1º Congresso Mundial contra a Exploração Comercial e Sexual de Crianças e Adolescentes, realizado pelo Unicef, órgão das Nações Unidas para a infância. Voltou chocada. “O cálculo era de 1 milhão de crianças traficadas no mundo. Isso sem contar jovens e adultos”, lembra. Começou então a divulgar o assunto na mídia brasileira com a equipe da ONG Serviço à Mulher Marginalizada (SMM), da qual é uma das articuladoras. “Quando falávamos em tráfico de crianças e mulheres no país, nos chamavam de loucas, escreviam para as redações dizendo que isso não existia”, recorda.


O ceticismo não desanimou essa ativista paranaense, mãe de cinco filhos, com uma experiência de 50 anos de militância. Ainda na faculdade, em Curitiba, integrou a Juventude Universitária Católica, que teve participação importante nos movimentos sociais brasileiros das décadas de 1950 e 1960. Depois de casada e formada, morando no Rio de Janeiro, fazia um trabalho preventivo de saúde visitando periferias e zonas de prostituição. Em 1963, mudou com o marido para São Sebastião, onde continuou o trabalho de conscientização. Nas décadas de 1970 e 1980, dedicouse a denunciar a especulação imobiliária no litoral e a expulsão de caiçaras e indígenas das suas terras, publicando o livro GENOCÍDIO DOS CAIÇARAS (ED. MASSAO OHNO, esgotado) e, em 1993, foi trabalhar no SMM. Sua luta na denúncia do tráfico de mulheres levou-a a escrever também o estudo Oferta, Demanda, Impunidade – Tráfico de Mulheres.


 CLAUDIA Ao sair, elas sabem que serão prostitutas?


PRISCILA SIQUEIRA A maioria é enganada com a promessa de trabalhar como dançarina, recepcionista de boate, babá ou cuidadora de idosos. Outras sabem que serão prostitutas. O que todas desconhecem é que vão viver em situação de escravidão. É diferente das mulheres que, por conta própria, juntam dinheiro, compram sua passagem e vão se prostituir num país rico. Se não houve aliciamento, se a mulher é livre para tomar suas decisões, se é maior de idade, a opção é dela. Nossa luta não é moral, mas por direitos humanos.
 
CLAUDIA Há servidão por dívida, como no trabalho escravo rural?


PRISCILA SIQUEIRA Sim. As mulheres aliciadas deixam o país com uma dívida de passagem, roupa e documentação. Uma pesquisa da Unanima (ONG de combate ao tráfico, formada por congregações católicas femininas e sediada em Nova York) calcula que a dívida da mulher que sai do Brasil para Madri ou Lisboa equivale a 4,5 mil relações sexuais. Como nem em um ano inteiro é possível para uma mulher manter essa quantidade de relações, cria-se uma dependência crescente. Caso diga que quer ir embora, passará a sofrer ameaças. Ela chega nova, bonita e, à medida que envelhece, é revendida como um objeto. Um cafetão canadense declarou para a MACLEAN’S (revista semanal do Canadá) que preferia vender mulheres a drogas e armas porque drogas e armas só se vendem uma vez, enquanto a mulher pode ser revendida até morrer de aids, ficar louca ou se matar.
 
CLAUDIA De 1996 para cá, você vê avanços no combate à exploração sexual?


PRISCILA SIQUEIRA Em 2004, graças à pressão da sociedade, o governo brasileiro ratificou o Protocolo para Prevenir, Suprimir e Punir o Tráfico de Pessoas, Especialmente Mulheres e Crianças, conhecido como Protocolo de Palermo. Com isso, o país se comprometeu a combater esse crime. Em 2006, foi publicada a Política Nacional de Enfrentamento ao Tráfico de Pessoas, que traz um conjunto de princípios, diretrizes e ações de prevenção e repressão ao tráfico e atenção às vítimas. Houve a participação de uma rede de ONGs no grupo de trabalho interministerial que elaborou o Plano Nacional de Enfrentamento ao Tráfico de Pessoas, ou seja, ações prioritárias para o cumprimento dessa política. Nossa luta é para que o plano seja efetivado.

CLAUDIA Você já foi ameaçada ou sentiu medo?

PRISCILA SIQUEIRA Medo, não. Nosso trabalho é de conscientização.Não trabalhamos diretamente com os criminosos. Isso é papel da polícia, pois se trata de crime organizado e de poderosas máfias internacionais. O que sinto é indignação diante da indiferença, do preconceito e do machismo. O tráfico só existe porque há uma grande demanda machista. As pessoas traficadas são, na maioria, mulheres e crianças do sexo feminino – um reflexo do fato de que a mulher, na sociedade, continua a não ter cidadania de primeiro grau, como o homem. Mas sou otimista: tenho consciência da dificuldade dessa luta, porém acredito nela.

Nenhum comentário: