2 de set. de 2010

Divórcio nos negócios

"Carta para minha ex sócia"

Eu tinha uma melhor amiga. Que se transformou em inimiga. Pior que isso, em indiferença. Éramos um grupo, pessoas felizes, ela fazia parte. Ela era a minha alma gêmea de amizade. Sempre disposta, sempre boazinha. Mas um belo dia acabou. O ser humano é coisa difícil de entender. Ja ouvi falar que bonzinho só se fode. Mas não concordo. Acho que bonzinhos aprendem com as dificuldades. Acredito que você partiu daquela sociedade mal sucedida para melhor.

Os vilões também sofrem, sabia? Sim, sofrem. Por isso, escrevo para você que ruiu minha vida e enfraqueceu um clã, mas que paradoxalmente estruturou  minha fortaleza. Aquela placa "fechado" na porta me fez enxergar claramente que alguns tipos de vilões nem sempre são maus. São seres dotados de um aglomerado de experiências negativas que tentam quase que involuntariamente não trazê-las à tona novamente, na melhor das intenções. Além de possuírem um forte espírito vencedor.

Me desculpe por falar demais, por ideias insanas, por ser dona de uma ansiedade insaciável. Perdoe-me por não ter a visão de priorizar uma risada boba de uma visita inesperada e inapropriada. Por exigir mais do que devia. Assim que terminamos,  tive dúvidas quanto ao meu poder de conquistar pessoas. As diferenças nos maltratou. Fomos inocentes e abusamos dos nossos limites.

Mesmo assim, você foi importante na minha vida. Parece clichê, dizer que aprendi com o sofrer. Mas foi isso que aconteceu, com o tempo, finquei minha personalidade. Sou assim e goste quem quiser! Mas prometo, ex amiga, que serei mais tolerante com as pessoas e tentarei enxergar menos defeitos nelas.

Minha mãe sempre foi muito severa em relação à minha criação. Vixe, mentirinha e falhas de caráter nunca fizeram parte da minha educação. Mas é exagerado, afinal quem é dono da verdade? Eu acabei absorvendo isso. Formei meu caráter bruto, igualzinho a minha vó, que imagino comandando os peões em cima de um cavalo, la na fazenda no interior de Pernambuco, Exu. Ela era ainda menos lapidada que minha mãe. Palavras de carinho não eram escassas, eram nulas.  Psicologia? Tá brincando, né? Eu queria mais era arregaçar as mangas e ver o castelo se erguer. Só isso me importava. As vezes tenho dúvidas se fui mesmo má ou se levantei um escudo com medo de acreditar em pessoas que não tinham como prioridade a vontade de ser pedreira. Dessas que colocam tijolo por tijolo, tal qual minha mãe e minha vó. Elas tão pouco se lixando se  lhes fazem acreditar que caviar é mais saboroso do que ovo frito. A personalidade é mais forte do que qualquer tipo de influência. Vai ver faltou delicadeza de minha parte.

 Já pensei em escrever um e-mail ou uma cartinha a punho como antigamente. Tentar me explicar e dizer que não fiz por mal. Mas desisti. Porquê tenho amor próprio. Cornos não costumam pedir perdão. Mesmo assim, estou aqui na esperança de você ler. Nosso casamento empresarial foi um fracasso. Mas porquê cargas d'agua eu não ficava a par do que acontecia claramente na sua cabeça? É isso que me traz a sensação de traição, sabe. Algumas pessoas têm facilidade de se expressar. Você não faz parte desse grupo. Então, pensando bem, Desculpa insistir por um motivo.

Fui má. Fui ambiciosa. Faria tudo outra vez? Jamais. Aprendi a força. Obrigada por me mostrar que posso ser melhor. Não devo nunca mais casar assim tão rápido. O que parecia eterno, cheio de sonhos, glamour e planos de capa da PEGN - Pequenas Empresas Grandes Negócios, se desmoronou. Somos manchete da vida real nas páginas da "PEGD"- Pequenas encrencas, grandes divórcios.

Mas  como ver o lado ruim? Insisto em agradecer. Hoje sei o quanto tenho força pra superar e o quanto deu certo pra minha vida. Paguei caro para testar minha capacidade, isso é verdade. Mas valeu a pena cada centavo e cada lembrança.

Lembra do dia que abrimos aquela cerveja, suadas, cansadas, de madrugada, depois de nossa primeira grande conquista? Ou simplesmente quando eu tentava pregar o feminismo na varanda de sua casa, tomando vinho barato. Que diga-se de passagem, você parecia compreender, enquanto outros acreditam piamente que caviar é mais saboroso que ovo frito, como se existisse regra para todos os paladares. Tenho vivo na minha mente você dizendo "nunca pensei por esse lado". Foi  tudo inesquecível. Tu até pode ser uma admiradora de Freud e seguir convenções culturais, mas hoje sei que deve ter me admirado quando falei que ia escrever um livro na contramão do que a sociedade dita sobre as mulheres. Isso me envaidece mesmo eu tendo a consciência que hoje tu me admirar ou não sequer faz diferença.

 Como diz o ditado, depois da tempestade vem a bonança. Ou será que eu fico tentando me consolar pensando: poxa, algo positivo eu fiz por ela! Porquê esse sentimento? Culpa? Não sei. Essa é minha dúvida, se sou vilã ou boazinha.

Minha incompetência maior não foi casar com você, mas não perceber que não tinhamos os mesmos objetivos. Simples assim! Talvez ninguém tenha culpa no cartório, viu?

Mesmo que você não queira saber da minha vida, que seus amigos e seus pais me odeiem, eu quero te dar notícias: estou feliz, novamente cheia de ideias absurdas. Lembra daquele rapaz que nos levou pra Floripa no último mês daquele último ano de nossa amizade? Ele virou o homem da minha vida. A diferença é que agora além do casamento, tenho uma relação amorosa. São relações bem diferentes, eu sei. Mas tu me ajudou até nisso. Sou outra mulher. Em nome do amor, eu tento suportar tudo com outro tipo de tolerância, com medo de ver tudo ruir de novo.

Pena que nossa amizade não tinha amor de verdade. Hoje eu aprendi que irmãos não se ganham assim em tão pouco tempo. Na nossa carência, nos iludimos. Eu apenas queria que você soubesse notícias minhas. Se vou saber suas, tenho quase certeza que não, porquê nunca pergunto de você pra evitar demonstrar sentimentos.

Um dia você aconselhou que eu me espiritualizasse, como se esse fosse o problema de todos os males. Virei busdista e sofro preconceito por não achar lógica em Deus. Já quis achar lógica demais em mim, no universo, nas pessoas e em você. Mas estou me acostumando a entender que não há lógica que sobreponha a paz interior e o respeito às diferenças. Um dia, você entenderá que a determinação e a fé são muito mais importantes pra transformar nossas vidas, e melhorar a dos outros, do que qualquer tipo de escolha religiosa. Fraqueza não combina com prosperidade, mas é preciso errar para se fortalecer e saber o que se quer. Essa é o segredo do sucesso que a gente não conseguiu guardar. Taí nosso erro: casar sem se conhecer bem e sem saber o que se espera. Pelo menos, a lição ficou pra sempre, concorda?

Um dia você vai entender, ou talvez já entenda, que se fiz parte de sua vida, foi pra te sacudir e fazer desabrochar seu verdadeiro motivo de viver.

Obrigada novamente por tudo.

Liana

31/08/2010