11 de abr. de 2010

Machismo na novela Viver a Vida



Cena comum: Mulher que bebe e "faz merda" apanha do marido ou do pai. Sim, esse direito de fazer merda não pertence à mulher. No homem é normalíssimo. Se fosse um filho homem isso aconteceria? Ser dona do próprio nariz na nossa sociedade e ter direito de tomar um porre (entendam: não estou defendendo que é certo) realmente é um dos direitos que a mulher não tem. Mas o machismo não para por aí na novela Viver a vida. Soraia, no outro dia, encontra sua prima Dora e diz que ela não perde por esperar. "Sou mais nova e menos gasta que você". Disse Soraia com tom de vitória. Manoel Carlos foi muito infeliz com esse trecho. Os personagens Gustavo e Marcos dão show de machismo também. A esposa de Gustavo, a Betina, apesar de vítima, não tem coragem de trair com o bonitão, afinal seus hormônios femininos não seguem os mesmos instintos dos machos. Sinceramente, machismo não cabe mais nas novelas, né? Pêlamôr, mais nova e menos gasta foi demais. Demonstra exatamente o nível de pensamento cultural que temos sobre as mulheres. A sociedade reforça através da mídia a importância de ser mais nova e menos gasta, mas não reforça a ideia de que os homens precisam ser mais lapidados, criados de forma menos machista, incentivados ao amor. Pelo contrário, o personagem Gustavo ta lá pra provar que mulher gosta mesmo é de cafajeste. Só as mulheres são incentivadas a valorizar a união, o sexo com amor, enquanto o todo onipotente macho é incentivado a seguir seu papel de "homem". O pai de Soraia agiu como um bom estereótipo "machão", típico de classes sociais mais baixas. Sua conduta deve ter sido aplaudida por muitos machões e mulheres machistas de plantão que se criam acreditando na inferioridade sexual das mulheres. Muita gente deve ta de acordo com o pensamento : mulher assim tem que se aprumar. Tem que levar surra mesmo pra ver se indireita. Afinal, o comportamento de Soraia foi de "puta". Deve ter muito telespectador do lado do pai dela, do lado da "decência". Principalmente os cidadãos de bem que vão à Igreja, né? Ok, desculpem-me a ironia, não quero ofender sua crença. Mas se fosse homem , por mais vexame que desse, teria um comportamento natural. O que é ser puta para você? Já discutimos isso aqui em outro post. Acredito que a personagem Dora é uma. Em busca de um macho provedor, não arregaça as mangas para ganhar seu próprio dinheiro, pior que isso: é mau caráter, transava com o marido da amiga debaixo do teto dela. Ainda engana outro homem sem saber sequer se o filho é dela. Isso para mim sim, é não se dar valor. Sua tia em uma conversa para aconselhar a moça, fez questão de salientar que ela é assim por causa de sua liberdade sexual. Deu a entender que Dora é puta por gostar de festas e homens. Ficou explícita à instigação a esse pensamento. O que reforça a ideia de que mulheres não têm direitos e as que se permitem são putas como Dora. Há uma distorção de valores quando o assunto é liberdade sexual feminina. Dora é puta de verdade, mas pelo seu mau caratismo. Diferente da puta profissional que merece mais respeito como a Mirna que faz pra ganhar dinheiro e isso é assumido. Ninguém quer se igualar ao homem que sai pra noite só para trepar e sai trepando como um animal. É comprovado que os machistas são mais propensos às doenças transmissíveis sexualmente e que são mais violentos. Sabe aquelas briguinhas de balada que sai até tiro? Certamente são provocadas por esses machões. Quando falamos em igualdade não é se igualar no que está errado. É criar nossos filhos sem ensinar-lhes que nos homens o comportamento de sexo instintivo é mais natural que na mulher. É ensinar que sair pra comer uma mulher e depois acordar do lado de um objeto é machista. Quem quiser se comer que se coma. Mas que haja respeito. Que seja um sexo seguro (com camisinha) que as duas pessoas se curtam, que os dois se divirtam. Que os dois se satisfaçam. Que ninguém faça ninguém de objeto. Que o homem não julgue a moça, que ele não faça sexo acreditando que fez por que obedece seus instintos, que ela não se culpe por ter sido "puta". Que nenhum dos gêneros acredite que sexo é a coisa mais importante quando sairem na noite. Que dois adultos permitam- se bater um bom papo e que sexo seja consequencia de pessoas maduras bem resolvidas que acreditam que tiveram afinidades, mesmo que por uma noite. Que de manhã, depois de uma noite de sexo, se respeitem mesmo que não haja interesse em nenhuma das partes em pegar o telefone ou dar continuidade. Que a quantidade de vezes que isso acontecer para o homem e a mulher não seja fator para rótulos: Puta e garanhão. Que a responsabilidade sobre seu corpo e suas emoções estejam acima de ser homem ou ser mulher. Que a crença no amor seja estimulada em ambos os sexos. Se há pessoas objetos e sexo pago, que seja comum para os dois gêneros. Que não só as mulheres continuem com essa conotação na mídia. Será que é um sonho meu acreditar que um dia não veremos mais nas novelas com cenas como essa?